A história da cassete está intimamente ligada à história do underground. Para a geração dos 80’s e 90’s, o formato serviu como ferramenta de marketing orgânico de bases, a desafiar o gate-keeping das grandes editoras que ditavam as modas e cultura para servir os seus interesses comerciais. Géneros como o metal, o punk, o hip hop, e outros géneros emergentes trilharam o seu percurso artístico graças ao tape trading - duplicação e partilha de música em formato peer-to-peer.
Actualmente as infra-estruturas online globalizadas são o grande suporte do nosso consumo cultural. Os gigantes do streaming ocupam um lugar semelhante ao das major labels das décadas passadas. São as suas orientações que programam algoritmos que fazem recomendações e projectam aquilo que está a ser ouvido, e assim a nossa paisagem cultural está cada vez mais monótona e uniforme.
Esta cassete que te faço chegar é no fundo uma celebração do ethos do it yourself e do formato mixtape como um espaço de experimentação e criatividade fora de preocupações comerciais. O desafio que te faço é que partilhes de forma directa, sem mediação de algoritmos.
Esta gravação não estará difundida nos canais habituais. Chegará apenas aos ouvidos de quem deve chegar. Se tiveres meios de duplicar esta cassete, sente-te livre de o fazer. Na verdade, toda a minha obra está licenciada em CC o que já o permite desde logo. Se for mais cómoda a partilha em formato digital, responde a este email para te enviar uma lista com códigos para download no bandcamp. .
Tradicionalmente, o formato mixtape foi utilizado por artistas para explorar e experimentar as suas ideias artísticas de forma independente e despreocupada. Aproveitei para revisitar e reinventar temas compostos nos últimos 4 anos. A música orgânica não se deixa cristalizar. É um campo de forças que funciona por si. Não temos de decidir quando ou como; simplesmente acontece. Um movimento de preenchimento e esvaziamento, sem esforço. Não existe nenhuma entidade isolada que determina a sua estrutura; cresce pelas múltiplas relações que se estabelecem mutuamente.
Um campo contém todos os elementos intrínsecos que são necessários para se desenvolver e prosperar. Por isso mesmo, é o contexto perfeito para toda uma multiplicidade de formas florescerem. Diferentes aspectos da minha música encontram aqui um estado de maturação e concretização. Nomeadamente, a utilização de reverb amplo e da função hold para sustentar os harmónicos do piano. O trabalho com loops em contraponto com o órgão eléctrico e enquanto elementos centrais e autónomos. A arquitectura do som em espaços amplos.
Entretanto, Tiago Sousa tem estado a trabalhar numa revisitação do Coro das Vontades. Desta vez com a associação HáBaixa e o coro BaixaAvoz de Coimbra. O concerto acontece dia 4 de Outubro mas este domingo estará no Convento de São Francisco em Coimbra, no contexto do Programa Cu.Co, a falar sobre o processo criativo e a tocar um dos temas do concerto.

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