O álbum esteve quase a chamar-se Para o que havia de estar guardado. Esse título aludia, de forma oblíqua, ao recurso a esboços instrumentais que Miguel Feraso Cabral vinha gravando no estúdio caseiro e que, durante anos, foram ficando na gaveta. Muitos dos temas de A Capa do Urso nascem precisamente daí: colagens e remisturas de sons adormecidos em discos rígidos, CD-R e cassetes.
Durante muito tempo, a ideia de usar voz e letras em português foi sendo adiada. Até que surgiu a decisão de avançar, escrevendo letras em torno de perceções da vida quotidiana urbana.
Ao longo de ano e meio, escreveu, compôs e gravou, lançando três singles em 2024 e outro em 2025.
Todos os instrumentos são tocados e gravados pelo próprio, sem qualquer preocupação em manter uma consistência de estilo — em afronta ao que tanto agrada aos algoritmos. Guitarras, bateria, eletrónica, objetos variados, manipulação de cassetes e até instrumentos inventados: tudo o que produzisse som e estivesse ao alcance no estúdio foi usado para coser A Capa do Urso.
BIO (versão curta):
Miguel Feraso Cabral iniciou-se como baterista em bandas de punk-rock nos anos 90 e foi cofundador do duo inicial Mola Dudle na viragem do milénio.
Desde 2003 edita os seus projetos na Rudimentol, incluindo o Nevermet Ensemble (2005), que reuniu músicos de vários continentes sem nunca se encontrarem, e obteve atenção a nível nacional e internacional.
Ativo na cena experimental e improvisada nos anos 2000, explorou instrumentos inventados e atuou em Portugal e no estrangeiro.
Em 2023 lançou “Deambul”, álbum instrumental de guitarra, eletrónica e percussão.
O mais recente trabalho, “A Capa do Urso”, aproxima-se da pop, com canções em português onde assina voz, todos os instrumentos e letras de tom mordaz e nonsense.
Paralelamente, Cabral é web designer em Lisboa, com percurso anterior em arquitetura e no ensino de artes visuais, mantendo sempre atividade artística como ilustrador e músico.

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