Os Malibu Gas Station, trio portuense formado em 2016 por Vítor Pinto, David Félix e, mais tarde, consolidado com João Losa, apresentam o seu segundo álbum, “Never Never”, que sucede ao disco de estreia “
World Wide Dance”. Este trabalho chega ao público no final de dezembro, num gesto deliberadamente contracorrente — porque lançar um álbum num mês em que "ninguém quer saber" parece ser a atitude mais autêntica da banda.
O título, “Never Never”, carrega múltiplos significados. Por um lado, remete à qualidade imaginária, idealista e fantasiosa que define o termo no inglês britânico. Por outro, revela um capítulo que, segundo os próprios músicos, talvez queiram deixar para trás o quanto antes. “Adormecemos todos os dias sob o aplauso da nossa consciência”, poderia dizer alguém com autoridade, como um treinador português outrora citou. Este disco é o reflexo de uma banda que encerra ciclos, resolve carolices e se prepara para um futuro onde, esperam, o terceiro álbum seja o verdadeiro — ler “o verdadeiro” com o sotaque do Porto.
Desde que Vítor Pinto e David Félix formaram os Malibu Gas Station, foi na entrada de João Losa — antigo colega na banda
O Abominável — que encontraram o tão sonhado "never-never": aquele ideal utópico e perfeito de banda que parecia sempre fora de alcance. Este segundo disco reflete uma paz de espírito e, ao mesmo tempo, uma inquietação constante. Não é um álbum para agradar, talvez nem para a banda, mas é um passo necessário.
Parte do charme dos Malibu Gas Station reside na sua autossuficiência. Vítor Pinto é designer, David Félix trabalha como assessor de imprensa e João Losa é produtor musical. Combinando estas competências, o trio sabe que tem tudo para correr mal, e corre, sempre, mal, como previsto, mas com sentido.
“Desde que somos três, as coisas fazem sentido”, comentam Vítor e David. Mas esse sentido não vem de respostas fáceis. Ao longo deste projeto, tiraram elementos, adicionaram outros, voltaram a tirar. O resultado? Um disco que parece falar tanto de dúvidas como de certezas, e que anuncia, já em 2025, o regresso aos palcos — algo que não acontece desde o lançamento do single de estreia “
Ellie Parker” em 2016.
Será que agora é que é? Será que os Malibu Gas Station se encontram finalmente resolvidos? Como agrupamento musical, preferem posicionar-se como um Braga ou um Belenenses, quem sabe até um Boavista, no campeonato — já que ir a um concerto é quase como ir à bola: sólidos, alternativos e fiéis a si mesmos, longe da pressão dos "três grandes"; uma defesa consistente, mas perto da reforma; ataque a duvidar de si mesmo; e um meio-campo inexistente nas transições defensivas e ofensivas que só vê jogar. “Somos todos amigos, a três, porque o gasóleo sai mais barato”, brincam. O preço do combustível, futebol e música também está relacionado, se usarmos o imaginário “Never Never”.
No entanto, a verdade é que os Malibu Gas Station nunca foram uma banda purista. Sempre carregaram consigo o impulso criativo e a resistência pragmática. “Nunca nos sentimos tão vivos como agora”, confessam. E isso, para eles, é o mais importante.
Com “Never Never”, a banda parece estar a fechar capítulos para abrir novos. O terceiro álbum, já prometido para o próximo ano, é onde as apostas estão. O que está para vir é sempre o melhor — a doce ansiedade. Até lá, este segundo disco é um lembrete de que a estrada é longa, mas nunca menos interessante.
A acompanhar o álbum, foi lançado o single “Small Horse”, o terceiro single de apresentação de “Never Never”. Inspirado pela reflexão de Darwin — “Poderia um pequeno potro, nascido numa estrebaria humilde, um dia galopar num hipódromo prestigiado? Não é essa, afinal, a questão e aspiração de muitos indivíduos nas sociedades?”.
“Never Never” acaba de ser editado e está disponível em todas as plataformas digitais. O regresso aos concertos está previsto para 2025, prometendo trazer aos palcos a energia renovada que agora define a banda.