segunda-feira, 7 de junho de 2004

A NAIFA - Canções Subterrâneas ( Sony Music)



Depois de ouvirmos o primeiro registo de A Naifa intitulado “Canções Subterrâneas” uma dúvida nos assalta o espirito. Será que estamos perante um disco de fado, ou por outro lado este é mais um registo de uma banda trip-pop. A guitarra portuguesa dedilhada por Luís Varatojo e a voz de tiques fadistas de Maria Antónia Mendes mostram claramente que este é um disco de fado. Não fosse o baixo de João Aguardela, a bateria de Vasco Vaz e os sons mais electronicos que cobrem os temas e o nosso problema estaria resolvido. Assim somos obrigados a ter de inventar um nome para caracterizar este novo estilo. Será que trip-fado fica bem?
A abrir o disco encontramos um tema que recria as ambiências de uma casa de fados. Entramos prontos a deleitar-nos com alguns sons tipicamente portugueses. A nossa viagem começa em grande estilo, tendo o seu ponto alto em “Música”.
Quando começamos a ouvir o quinto tema de nome “Metereológica” a nossa atenção desvia-se. Por momentos o que importa é o copo de tinto e o chouriço em brasa que estão em cima da mesa.
Só minutos mais tarde, quando nos é apresentada a faixa “Rapaz a Arder” é que voltamos de novo os olhos para o palco. E qual não é o nosso espanto quando nos é anunciada a presença de Rui Duarte dos Ramp para cantar “Poema Com Domicílio / Questão da Noite”. E o Rui consegue provar que a sua alma também é fadista.
Quando estamos prontos para pagar a conta e sair somos ainda brindados com mais um tema.
A Naifa apresenta em “Canções Subterrâneas” 12 músicas, que apesar de terem como base o fado, nos trazem histórias que não são de faca e alguidar. São letras escritas de forma inteligente por um punhado de novos talentos em que se destacam os nomes de Adília Lopes, José Luís Peixoto e Tiago Gomes.
O disco peca apenas pelo facto de não nos conseguir despertar os sentidos sempre da mesma maneira. Se por um lado nos apresenta temas surpreendentes, por outro mostra-nos alguns que parecem ter aqui vindo parar apenas para fazer número.
Contudo, temos de dar o devido valor ao projecto, pois numa altura em que parecia que já não havia bandas de raizes tipicamente portuguesas, eles conseguem trazer uma lufada de ar fresco à musica nacional. Os únicos nomes com os quais podem ser comparados é com os de Anamar que já alguns anos tinha tentado cruzar a pop e o fado, com os extintos Terra Mar que tão bem misturaram o tango e o fado, com os Ovelha Negra de Paulo Pedro Gonçalves ou com António Variações o homem que conseguiu juntar nas suas canções ambientes de Braga e Nova Iorque.
Se os MadreDeus e a Marisa conseguem brilhar além fronteiras, porque não A Naifa? Afinal, como diz uma canção: “Tudo isto existe / Tudo isto é triste / Tudo isto é fado”.

Nuno Ávila

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