“Ao Vivo na Antena 3” é um disco que não se vende sozinho. Quem quiser desfrutar deste concerto especial que os Coldfinger deram na Antena 3 é obrigado a comprar igualmente “Sweet Moods And Interludes”, o registo de 2002 da banda de Miguel Cardona e Margarida Pinto.
Se ainda não conhecem temas como “Cover Sleeve” ou “Easy M” a compra torna-se obrigatória. “Sweet Moods and Interludes” é de facto um disco apaixonante.
“Ao Vivo Na Antena 3” apresenta-nos uns Coldfinger em estado bruto. São 8 músicas nuas e cruas. A banda despe os seus temas de grandes arranjos, pondo em cima da mesa um prato rico em novos sabores.
As músicas dos Coldfinger surgem aqui com novas roupagens, dominadas por um piano que nos penetra o coração e uma suave percussão que nos enche a alma. A voz de Margarida Pinto várias vezes toca as nuvens, para voltar à terra e nos encantar, deixando-nos vidrados.
Neste “concerto” a banda não segue sempre por caminhos trip-hop como lhe é habitual, entrando igualmente por estradas onde o jazz se passeia. Ganha assim um novo sentido a música dos Coldfinger.
A banda consegue desta forma mostrar todo o seu talento para reconstruir um conjunto de temas que julgaríamos serem intocáveis.
E como a dado passo afirma Margarida Pinto, o que se registou no auditório da Antena 3 para mais tarde recordar, não foi um concerto. O que transparece a quem ouve este som e a forma como as músicas vão enchendo o ar, é que efectivamente estamos aqui perante um encontro de velhos amigos, que se juntam pois um deles tem coisas novas para contar. Ou será cantar?…
Desta forma os Coldfinger fazem renascer a sua carreira chamando novamente a atenção para o seu disco de 2002, que de facto é imperdivel. Pena é que este “concerto” não se venda em separado, pois quem comprou o outro disco perde assim a possibilidade de desfrutar de uma obra que por vezes quase ultrapassa aquela a que se colou.
Depois de acordarmos deste sonho, aumentamos em nós a certeza de que os Coldfinger são um dos mais interessantes projectos da musica portuguesa. Sem apresentarem nada de verdadeiramente inovador, conseguem encher a sua música com um talento invulgar.
E mais importante que tudo sabem criar momentos especiais, inventando ao vivo filmes novos para projectar na tela em branco do nosso cérebro.
Quem toca música ao vivo não se deve limitar a reproduzir fielmente o que vem nos seus discos de estúdio. E nesta arte de pisar os palcos, e em particular o da Antena 3, num momento que invadiu o éter, os Coldfinger perceberam que no mudar é que está o ganho.
E os Coldfinger efectivamente ganharam… e por muitos golos de vantagem, sem ficarem por um minuto que seja em fora de jogo.
Nuno Ávila
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