segunda-feira, 18 de outubro de 2004

BULLLET - “Torch Songs For Secret Agents” (Loop:Recordings)


Estamos na presença do segundo volume da estória policial, em que o agente secreto, Vladimir Orlov volta a ser a personagem principal. E uma vez mais a banda sonora deste filme foi criada pelos Bulllet, projecto liderado por Armando Teixeira.
Em "Tourch Songs For Secrets Agents", sem perder a identidade, os Bulllet resolveram criar um disco diferente. Deixando de lado apenas os temas instrumentais, como acontecia em "The Lost Tapes", seguem o caminho, percorrido em palco, onde Kalaf, era o narrador de serviço e no maxi, "The Lost Vocal Tapes" editado depois do primeiro cd. Só que aqui Kalaf não é o único cúmplice a emprestar a voz aos sons criados por Armando Teixeira. De momento a polícia investiga, na procura dos restantes cúmplices, que ajudaram a criar um disco repleto de paisagens que se prendem no cérebro para não mais sair. Este é um registo viciante…
A primeira pista encontrada tem o nome de "Close Yet So Far". Os primeiros suspeitos são o DJ Nel’ Assassin e a cantora de voz doce Lili, conhecida por também emprestar a seus dotes ao projecto Ballerina. São sons de raiz mais trip-hop que abrem o disco. Somos levados até um cabaré…
Em cima do palco uma voz atira frases ditas em francês, que só servem para baralhar as nossas pistas de investigação. Por momentos a flauta de Flapi enfeitiça-nos. "Je M’ avence", assim se chama este capitulo da estória.
Quando damos por ela são já as "Palavras/Words" de amor ditas por Kalaf, que se perdem por entre sons planantes. Afinal trata-se de um caso de amor…
Sim é verdade… Lili prepara-se para matar… "killing You Softly", canta ela com a sua voz angelical. Notas musicais, quase pop, deixam o nosso corpo dormente. Adormecemos. O agente foi vencido.
Agora ele sonha. O real e o irreal misturam-se num copo fundo. Estamos no Japão na companhia de Legendary Tiger Man e Miss Shing. Na porta de um bar um cartaz anuncia um concerto de Pizicato Five. Deixamos "Hong Kong Stomp". Estamos fartos de tanto néon.
Acordamos. Voltamos à rua em busca de novas pistas. Entramos num bar com cheiro a sexo. Pelo ar sons a fugir para o jazz. De novo a flauta de Flapi a dar um toque fora do vulgar ao som. Já cansado desta aula de "Sexologie" o agente abandona o lugar.
Na rua um altifalante debita sons que deixam as pessoas enfeitiçadas. O agente procura o verdadeiro suspeito. Alguém lhe diz: "… I Do". Será que não mente.
Por fim, entra no carro. Liga a rádio à procura de outros sons. Quer ouvir qualquer coisa mais dub. É atacado por um cansaço inexplicável. A voz de Kalaf volta a encher o ar.
Está outra vez a sonhar. Por momentos equaciona a ideia de tudo ter tido o seu início num país latino. Vê á sua frente uma orquestra latina. Mesmo sem força, apetece-lhe dançar.
Desliga-se de tal ideia e volta a acordar. O carro faz-se à estrada. Ele abre o vidro para que todos escutem o som que sai da sua viatura. Uma batida trip-hop marca o ritmo do pouco trânsito que existe de madrugada.
Agora que o dia está quase a nascer apercebe-se de que está em Shangai. Que tudo esta ligado ao crime local . "Shangai Connection". Pára o carro. Pega na pistola. Corre…
Será que encontrou o suspeito?… Esperemos pela nova estória…
Enquanto nos deleitamos com esta banda sonora para filme policial a preto e branco o melhor será mesmo esperar por um novo capítulo. É que por enquanto o nosso desejo é voltar a pôr a mão na tecla play para escutar de novo "Torch Songs For Secret Agents".
Estamos perante sons "roubados" a outros tempos. Minutos de prazer que Armando Teixeira junta com sons mais actuais usando uma técnica exemplar. Notas que são tiradas ao jazz, ao trip-hop, ao dub, ao hip-hop, à música dos anos 20, aos ritmos latinos, e a pedaços de tantas peças que Armando Teixeira sampla. Ritmos calmos, sons planantes, aqui e ali conjugados com batidas mais fortes. Músicas que criam imagens em telas brancas.
A electrónica serve-se de forma sublime, e mistura-se por vezes com elementos mais analógicos.
Aqui cabe o mundo todo. E o mundo todo faz sentido dentro da música dos Bulllet. Seja ela para agentes secretos ou não.

Nuno Ávila

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