segunda-feira, 18 de setembro de 2006

Nuno Prata - “Todos Os Dias Fossem Estes/Outros” (Turbina)



Finalmente aí está. Já temos entre ouvidos o primeiro registo de Nuno Prata. E para que nada ficasse de fora o músico brinda-nos com 19 temas.
Será que para quem, sempre acompanhou a carreira de Nuno Prata, desde os Ornatos Violeta, onde tocava baixo, até este seu percurso mas solitário, se poderá ainda surpreender com este registo? Resposta pronta e na ponta da língua: sim!
Primeiro, convém esclarecer que de todos os músicos que saltaram dos Ornatos Violeta, Nuno é aquele que transporta nas suas músicas o maior legado deixado pela banda do Porto. Então mas onde está a surpresa que nos reserva este CD? Calma…
Quem conhece a maquete que gravou, assinada como Nuno, Nico, ao lado do companheiro Nicolas Tricot, vai encontrar aqui os temas que por lá se escutavam. A própria capa da demo serviu de modelo para a deste registo. Quem já viu Nuno Prata em palco vai reconhecer todas as canções deste disco. Vai encontrar as mesmas referências que desde sempre vestiram a sua música. Por vezes o ritmo brasileiro, onde a bossa nova é recanto visitado. Outras, todo o lado português trazido por nomes, com r de revolta no canto, com por exemplo Sérgio Godinho ou José Mário Branco. E claro, já o dissemos, a maior de todas as influências, os seus Ornatos Violeta. Nuno, atira para fora da boca palavras, lembrando por vezes a forma de cantar de Manuel Cruz.
A pergunta está pronta a saltar de novo. Parece afinal que Nuno Prata nos traz mais do mesmo.
Não é totalmente verdade. A vantagem é que está tudo agora em disco, perto do nosso coração, para ser escutado a qualquer hora do dia.
Ao partir para a gravação deste disco, Nuno Prata, reequacionou toda a sua música. Sem a fazer perder o seu lado encantatório, e de uma certa fragilidade, vestiu-a com muito mais cores.
Para dentro de muitos dos seus temas, o músico chamou alguns instrumentos que não o estava-mos habituados a ver manejar. As teclas dão em muitos casos um sabor novo aos temas de Nuno Prata.
Os temas mais conhecidos, como por exemplo “Guarda Bem o Teu Tesouro”, sofreram novos arranjos, para nos poderem continuar a apaixonar.
E depois, temos dentro deste disco um Nicolas Tricot, no melhor dos seus melhores, a manejar um punhados de instrumentos, com as percussões à cabeça, fazendo saltar a todo o momento sons inesperados para o ar, que nos despertam os sentidos e nos prendem a atenção.
A maior prova de tudo o que escrevi, pode tirar-se escutando o tema “Alice Ri-se”.
Mas o que continua a cativar, neste disco, é o facto de a música que começou por ser escrita todo ela, por Nuno, usando um baixo ou uma guitarra acústica, não perder todo esse lado mais nu. É assim que se quer a música de Nuno Prata. Em carne viva.
E são de facto, o baixo e a guitarra os fios condutores, que fazem girar todo este carrossel. São eles que marcam o ritmo deste pulsar.
E depois a juntar a tudo isto, temos palavras, que se cantam e que fazem as letras ser poemas. Dizem-se de forma sentida. Não são gratuitas.
“Todos Os Dias Fossem Estes/Outros”, com certeza que o mundo viveria melhor. E em paz.
Sim, porque este disco traz dentro dele uma alegria, por vezes sofrida, que nos deixa a alma mais leve.
É um disco criado sem preconceitos. Por isso forte!
Estamos assim, perante um conjunto de canções que esvoaçam como uma pomba branca, prontas a conquistar o mundo. Deixem-nas passar…

Nuno Ávila

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