sábado, 1 de setembro de 2007

O OUTRO LADO DA MÚSICA PORTUGUESA




O blog do Santos da Casa iniciou uma rubrica denominada “O Outro Lado da Música Portuguesa”. Pretendemos desta forma dar a conhecer e valorizar o trabalho, de quem na sombra, ajuda os artistas e bandas a alcançarem o estrelato. Por aqui vamos dar voz a promotores, managers, road-managers, rodies, produtores, editores, técnicos de som, donos de salas de concerto, organizadores de espectáculos, realizadores de programas de rádio, jornalistas, e a gente mais ou menos anónima que em sites e blogs fala daquilo que por estes lados se vai produzindo. As grandes entrevistas, com os maiores protagonistas, que são os artistas ficam guardadas para o 107.9 da Rádio Universidade de Coimbra.


Hoje responde às nossas perguntas o Rodrigo Cardoso "patrão" da Bor Land uma da mais importantes editoras independentes nacionais. Leva de vida mais de cinco anos. Para além de ser editor o Rodrigo é igualmente promotor, produtor de concertos e um dos elementos do grupo Alla Polacca.


Nome: Rodrigo Cardoso
Idade: 28
Profissão: Produtor / Músico


1 – Santos da Casa (SC) Como surgiu a Bor Land? Conta-nos os passos da editora ao longo destes anos.

Rodrigo Cardoso (RC) - A razão é a mais simples possível. O gosto pela música e posteriormente pelas editoras e a produção. Depois passou por um processo de investigação, o quê e como fazer. São sete anos a tentar produzir música de qualidade e a vontade natural de crescer, chegar a mais pessoas, ter melhores artistas e produções.

2 - SC - O facto de seres músico, e de teres contacto com o panorama editorial, foi uma das causa que te fez erguer a Bor Land, ou existem outras?

RC - É também um factor, mas não o central. Ser músico é certamente um estímulo, e é estar também por “dentro da música”, o que certamente facilita o modo de operar e comunicar com os restantes artistas.


3 - SC - Como escolhes as bandas que editas? Pelo material recebido? Depois de as veres ao vivo?


RC - O ponto principal é obviemente a música, seja em disco ou ao vivo, mas quando se decide produzir/editar um artista existem sempre mais pontos que tomas em atenção. Vamos trabalhar com pessoas, logo há que estabelecer um equilíbrio em diversos assuntos, para que o resultado final seja sempre o melhor possível. Raramente editamos recurso ao material que recebemos e que seria sem dúvida limitado. Prende-se mais com a procura, idas a espectáculos, na internet e na própria sub-rede de bandas que já acontece dentro da editora.

4 - SC - Alguma vez sonhaste que a editora pudesse durar estes anos todos? Quais são as tuas maiores compensações?

RC - Quando pensas na ideia mais primitiva e sonhadora, pensas em não a abandonar no mesma no instante em que os criaste. E isto prende-se principalmente com o tempo que é necessário investir para “construir” uma editora. A Bor Land aconteceu de forma natural, do zero, sem qualquer conhecimento anterior. O facto de termos conseguido num curto espaço de tempo, obter destaque quer pelos artistas quer pelo número de discos que produzimos, fez nascer um interesse singular pela editora. As maiores compensações são esse mesmo reconhecimento de forma unânime, e saber que do nada conseguimos criar um projecto sólido e com uma “espécie de ética” a que nos está associação.

5 - SC - Existe um som Bor Land, ou nunca chegou a existir?


RC - Acho que não existe propriemente um som, mas haverá certamente uma atitude.

6 - SC - Editando tu artistas nacionais, como analisas o momento por que passa a música indie no nosso país?

RC - Apesar do espectro limitado, o momento é altamente estímultante e diversificado. As opções são vastas, quer em número quer em género. Existem mais músicos, editores, salas de espectáculos, produtores, estúdios...

7 - SC - A organização de concertos e o agenciamento de bandas, são uma consequência lógica do mercado da edição, como forma de promoção, ou tu desempenhas igualmente este papel por teres gosto e claros contactos privilegiados?


RC - É sem dúvida uma consequência lógica de todo o processo. Mesmo que representando um número de artistas reduzido tendo em conta aqueles que editamos, é um ponto cada vez mais importante, permitindo uma melhor equação das produções, aproximando a realidade da edição com a dos espectáculos. E não temos nenhum tipo de contactos priveligiados, visto que os nossos artistas nem tocam de forma tão regular quanto a desejada.

8 - SC - Cuidando a Bor Land muito bem da roupa que veste os seus discos, sentes que para se combater a pirataria deve oferecer-se ao público trabalhos quase únicos, em que o toque e a visão fazem igualmente parte da fruição?

RC - Sem dúvida. Cabe aos editores (e claro, aos artistas) serem criativos e desenvolverem produções de qualidade. Diria que temos uma espécie de vaidade na forma como nos apresentamos.

9 - SC - Qual o futuro próximo da editora?

RC - Em Outubro próximo iremos editar dois novos projectos, o frenético duo Lobster, e um trabalho para guitarra solo do Norberto Lobo. Estamos também a trabalhar em novos discos dos Olga, Alla Polacca e Bypass com edição para 2008.

10 - SC - Qual a banda que mais desejarias editar e porquê?

RC - Exactamente as que vamos editar, mais um rol quase infinito de possibilidades!

11 - SC - Sendo tu igualmente promotor, explica quais as estratégias que usas para dares mais visibilidade aos artistas que editas.

RC - Bem esse capítulo... é bastante estimulante produzir e promover música, mas não existem propriemente fórmulas. Como os artistas são todos diferentes tens de te ir adaptando a diferentes planos e meios de acção. E claro, são precisas muitas horas para estabelecer novas relações e parcerias. Acho que tudo depende das relação entre artista, budget e objectivos.





Nuno Ávila

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