segunda-feira, 1 de outubro de 2007

Bezegol - “Rude Bwoy Stand” (Matarroa)



Bezegol é uma das partes visíveis do grupo hip hop MatoZoo. No entanto, “Rude Bwoy Stand” não é na sua essência um disco hip hop. Aliás, não faria muito sentido, Bezegol voltar a fazer aquilo que já faz…
Mas claro que este disco tem hip hop lá dentro. Mas um hip hop que não busca influência em território nacional. Basta escutar a faixa escondida “Drástico” onde participam os MatoZoo e o restante do disco para perceber as diferenças. Este Hip Hop busca muito do que é em sons vindos de França. Escute-se a faixa “After This“” com a participação de Souljah & Tito da crew francesa Buga Propaganjah para comprovar. Mas, este hip hop deve também um pouco da sua vida aos ritmos que nos chegam de terras de sua majestade. A isto não é alheia a participação do carismático Fatman D dos Biological Beatz/Breed no tema “Coution”.
Mas o que mais surpreende em “Rude Bwoy Stand” é a mistura perfeita de estilos. Este disco tem como já se disse hip hop lá dentro. Mas tem igualmente muito de reggae. “Nature (Do You Ear What I Say?)” é um puro tema jamaicano. Encontramos igualmente em “Rude Bwoy Stand” pitadas de ragga e temperos de soul. Enfim, estamos perante um disco que se deixa levar em muito pela música negra, isto apesar de nos dias que vão passando serem cada vez mais ténues as fronteiras entre as culturas negra e branca. Bezegol é disso um grande exemplo. E dos bons… Assimilou ensinamentos, para os transformar, ao ponto de lhes juntar elementos vindos de paragens que não se ligam minimamente a estas vidas. Grande exemplo do que acabo de escrever é a presença da guitarra portuguesa de Aires no surpreendente “Let Them Know”.
Este é, como se pode ver um registo feito de muitas colaborações. Por aqui passam ainda, L.V.M. que produz maioritariamente com Bezegol o disco e New Max, DJ Kronik e Conductor, que ajudam igualmente na produção. Depois, por aqui se passeia o talento de DJ Ride, as teclas de Charly Skank, e as vozes dos companheiros MatoZoo. Cada um deles enfia um pouco de si no disco e dá-lhe cores muito variadas, não deixando sabiamente Bezegol que este perca a sua coerência.
“Rude Bwoy Stand” é um registo que nunca se extravia apesar de ter muito dentro de si. Muitas culturas, vários estilos, mas um disco só, o de Bezegol, que o transforma num diamante em bruto.
Valeu a penas esperar por este disco de Bezegol. MC, DJ, produtor, criador de eventos, Bezegol oferece-nos aqui uma obra sem precedentes. Um disco que se deixa levar por uma cultura mais alternativa, fugindo aos padrões do que por cá estamos habituados a ouvir. Por isso este CD tem asas para voar até muito longe.
“Rude Bwoy Stand” é feito de muitos pormenores. Disco com letras fortes, onde podemos escutar excertos de filmes independentes brasileiros, uma gravação original do 25 de Abril de 74 e até um rasgo punk rock a meio do disco.
Bezgol revela-se um artista rebelde. Sem medo de ser frontal e de fazer o que lhe vai na alma. Por isso este disco nos entra tão forte no corpo…
Agora é difícil desligarmo-nos deste “Rude Bwoy Stand”. Por isso o dedo volta repetidas vezes à tecla play. E nós embarcamos nesta viagem. Um passeio que tem bilhete de ida, mas não tem o regresso marcado…

Nuno Ávila

1 comentário:

Leunam Max disse...

Fabuloso. Grande álbum e bom som. Parabéns Bezegol.