Ao terceiro disco os Corsage armam-se em ginastas e dão uma pirueta seguida de cambalhota. Se este movimento não estiver bem treinado o atleta pode correr o risco de provocar uma lesão grave.
Quando se mete este disco a tocar e se olha para a capa, tudo nos parece estranho à partida. A capa idealizada pelo senhor da voz, Henrique Amoroso, é uma metáfora gigante sobre o actual estado do país. Portugal é um colete de forças que nos estrangula. Graficamente primeiro estranha-se e depois entranha-se. O nome do grupo e do disco só aparecem no verso e na lombada.
Mas a maior reviravolta dá-se a nível musical. A banda está mais rock e abandona o inglês. Escolhem agora para cantar a língua pátria.
Custa, dizer logo de caras que valeu a pena esta mudança. É necessário escutar mais vezes o disco. E é isso que fazemos.
Desde logo nos deparamos com uma outra forma de captar, produzir e masterizar os temas. O som está mais compacto. Assim sendo não se destacam instrumentos. O mesmo acontece com a voz, que maioria do tempo está vestida por esta densa camada de som, sendo que o único senão da coisa seja o facto de nos obrigar a elevar o som da aparelhagem para se tentarem captar as belas palavras escritas por Henrique Amoroso. Mas há sempre uma ou outra que nos escapa. Foi de certeza opção da banda registar a sua musica assim. Outro risco que correm, no meio de mais alguns. Para vos ser sincero não desgosto, se bem que seja mais adepto de uma voz mais límpida.
Quanto à construção musical, de referir que continuam aqui vincadas algumas das influências da banda, com o blues à cabeça. Só que tudo tocado de uma forma mais rasgada e acelerada. Nota-se também mais vincada neste disco a paixão que nutrem por uns Divine Comedy.
Numa época em que o lowfy volta a estar na moda, os Corsage, sem nos darem um disco demasiado sujo, enveredam por um caminho que até agora lhes estava distante. Assumem o risco sem medo. Desafiam os fieis seguidores. A ver vamos nos próximos tempos se valeu a pena esta mudança.
Uma coisa é certa, devemos aplaudir de pé gente que tem tomates para lançar discos em formato físico e ao mesmo tempo dar um passo de gigante na sua carreira.
Este “Música Bipolar Portuguesa” é um disco coerente e frontal. De difícil digestão. Contudo não provoca azia. E a cada nova audição se descobrem novos caminhos ainda por calcorrear.
E se este disco tem musicas que nos ficam na cabeça, caso do single “Adeus Europa”, então é porque os Corsage continuam a ser senhores de um talento que não se perde por mais voltas que a vida dê.
Nuno Ávila
Sem comentários:
Enviar um comentário