Quem se lembra dos Indignu no principio, não acredita que são os mesmos. Foi grande a plástica. De facto ao dar os primeiros passos, a banda de Barcelos, construía um rock muito pouco colorido e sem grandes motivos de interesse. Até perceberem que o caminho não era por aí. Depois de um momento de reflexão, desenham novas coordenadas e oferecem-nos um belíssimo “Fetus In Fetu”, deixando de lado o tal rock desinspirado, para mergulharem num pós-rock, que mesmo sem trazer nada de novo, dava à banda uma outra consistência e nos fazia olhar para eles com outros olhos.
Agora chegados a este novo disco, eles mostram que valeu a pena a mudança. A banda cresceu, evoluiu e solidificou.
“Odyssea” é um disco por inteiro. Ou melhor um disco livro ou visse versa. Uma obra conceptual que navega em alto mar, No livro encontramos belíssimas imagens de Mário Vitória e palavras de Afonso Dorido. Musicalmente o disco é a banda sonora perfeita para esta nossa viagem marítima.
Em “Odyssea” a composição dos Indignu está mais requintada. Ao seu som a banda junta um leque de instrumentos até aqui dele arredados. Destaque maior para o violino que cria em grande parte do disco momentos geniais. Depois realçar a passagem da guitarra portuguesa por “Caravela na Ponta dos Dedos”. Por fim as teclas e piano a darem ao som momentos de paz e introspecção. Como será de notar as muralhas de guitarras continuam presentes, só que agora são estes pormenores que captam muito mais a nossa atenção.
Como resultado final, os Indignu oferecem-nos um pós-rock muito mais rico e condimentado, conseguindo construir muitos momentos de feliz originalidade.
Estamos assim perante um disco maior, de uma banda que soube crescer na direcção certa. Este é o seu disco de afirmação.
Por eles ficamos felizes, porque souberam perceber o que não queriam, dar a volta no sentido certo e avançar em frente.
E não há que negar: “Odyssea” é para já um dos grandes discos do ano. Um registo que nos inspira uma paz, uma calma, suficientes para nos ajudarem a criar grandes filmes mentais.
Um registo que se ouve de uma assentada, porque esta é uma obra inteira. Por isso mergulhemos neste mar e deixe-mos salpicar por a espuma branca destas ondas.
Nuno Ávila
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