segunda-feira, 28 de abril de 2014

BULLLET EDITA HOJE COSMIC NOISE VOL 1



















Vladimir Orlov está de volta. Este "disfarce" de Armando Teixeira, homem cuja carreira indica nunca ter sido avesso a máscaras, traduzia-se na verdade num véu conceptual para enquadrar uma abordagem específica à produção. E agora é chegada a hora de revelar a primeira parte de um terceiro capítulo nesta história semissecreta. Cosmic Noise é o título do terceiro álbum de Bulllet que será apresentado em duas partes. Na primeira, brilha a voz de Lili, outra "operacional" do universo Bulllet que já tinha dado voz a alguns dos principais momentos de Torch Songs For Secret Agents. A segunda mantem-se, para já, encriptada no bunker secreto de Vladimir Orlov.
 
Tudo começou com Balla, o projecto com que Armando Teixeira resolveu assumir as canções. Num primeiro momento, a abordagem do homem que já contava no currículo com trabalho  efetuado com Da Weasel, Ik Mux ou Bizarra Locomotiva passou muito pelos samples. A  generosa coleção de discos de Armando Teixeira permitia-lhe realizar as suas orquestrações  em modo solitário, depois de muito tempo a trabalhar em regime colaborativo com outros  músicos. No arranque da aventura Balla, o músico e produtor referiu-se bastas vezes ao ato  de procurar no "lixo" de outras eras o ouro que pudesse brilhar mais no presente, arrancando ao vinil os loops significativos que lhe permitissem construir as suas canções. Esse lado, da produção instrumental, deu ideias a Armando Teixeira e começou a conquistar espaço no seu particular mapa conceptual.
 
No arranque da década passada, o surgimento da Loop:Recordings deu a Armando Teixeira aoportunidade de explorar esse lado mais instrumental. The Lost Tapes, álbum editado em 2002, foi o resultado dessa visão. Um disco lançado numa editora comprometida com a ideia de hip hop, mas com vistas largas. Um disco com um enquadramento conceptual muito específico: uma história que cruzava a guerra fria, agentes secretos, submarinos e lugares exóticos de ambos os lados da cortina de ferro. Uma pérola da produção eletrónica instrumental nacional, sem a menor sombra de dúvida.
 
Mas Armando Teixeira nunca tencionou deixar o projeto Bulllet encerrado no estúdio e não demorou a dar-lhe uma dimensão de palco, recrutando para isso os talentos de Nel'Assassin, dj de exceção, e de Kalaf, "dizeur" iluminado que haveria de levar as suas palavras a enquadrarem uma nova revolução com origem lá para os lados da Buraca. Mas isso é outra história. Depois de The Lost Tapes e já com a experiência de palco bem medida, veio a adenda The Lost Vocal Tapes, um EP com a colaboração de Kalaf sobre material do álbum de estreia que mereceu inclusivamente uma série de vídeos da autoria do conceituado realizador Edgar Pêra.
 
O segundo álbum de Bulllet surgiu em 2004: Torch Songs For Secret Agents contava já com a voz de Lili e contou com variadas colaborações, incluindo The Legendary Tigerman e Miss Shing no quase hit "Hong Kong Stomp". Tema com uma particularidade reveladora: The Legendary Tigerman é um artista real e Miss Shing um produto da imaginação de Teixeira/Orlov, inventado a partir de um obscuro disco de vinil asiático...
 
Nestes últimos 10 anos, entretanto, cresceu a certeza de que o trabalho de Armando Teixeira como Bulllet foi absolutamente singular e visionário, pegando em estratégias, ferramentas e ideias do hip hop para criar uma visão cinemática que parecia dever tanto a Dj Shadow ou Dan The Automator como a Serge Gainsbourg ou Ennio Morricone.
 
Agora, Bulllet regressa. Para já em modo digital e a dois tempos. Lili regressa do passado para esta primeira parte, mais "cantada". Há também um novo homem a riscar o vinil - responde pelo nome de DJ GI Joe, outro veterano da cena hip hop nacional, com longa obra publicada a partir da sua Kimahera. Para a segunda parte, mais "spoken word", um novo recruta que para já Vladimir Orlov pretende manter em segredo.
 
Uma certeza, no entanto: nesta aventura que se estende já por uma dúzia de anos, ArmandoTeixeira mantém o espírito exploratório, continua a arrancar futuro à tecnologia analógica que faz do seu estúdio um lugar mágico e continua a injetar filmes na cabeça de quem não se importa de fechar os olhos e abrir os ouvidos. Cosmic Noise é assim: mais um filme a aguardar pelo realizador certo. Que é quem carrega no play...

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