quinta-feira, 23 de outubro de 2014

RESISTÊNCIA COM NOVO DISCO















Após vinte e dois anos de intervalo, os Resistência apresentam um novo álbum de canções resgatadas ao tempo e às obras de outros grupos: a importância das palavras e das guitarras no som de uma orquestra acústica de onze músicos.
 
As canções

1 - Vai Sem Medo (do álbum «A Nova Aurora», de Madredeus e A Banda Cósmica, 2009) – cantado por Tim.
2 - Cidade Fantasma (do álbum «O Elevador da Glória», dos Rádio Macau, 1987) – cantado por Miguel Ângelo.
3 - Ser Maior (do álbum «Ser Maior, Uma História Natural», dos Delfins, 1993) – cantado por Olavo Bilac.
4 - Deitar a Perder (do álbum «XIII», dos Xutos e Pontapés», 2001) – cantado por Fernando Cunha.
5 - Balada do Bloqueio (do álbum «Delfins», dos Delfins, 2007) – cantado por Tim.
6 - Perfeito Vazio (do álbum «Xutos e Pontapés», dos Xutos e Pontapés, 2009) – cantado por Pedro Ayres Magalhães.
7 - Melhor Amigo (do álbum «Companheiros de Aventura», de Tim, 2010) – cantado por Tim.
8 - Baloiçando nas Estrelas (do álbum «A Nova Aurora», de Madredeus e A Banda Cósmica, 2009) – cantado por Tim, Olavo Bilac e Miguel Ângelo.
9 - Estrela da Vida (do álbum «Ser Maior, Uma História Natural», dos Delfins, 1993) – cantado por Tim.
10 - Cantiga de Amor (do álbum «8», dos Rádio Macau, 2008) – cantado por Olavo Bilac.
11 - Gota a Gota (do álbum «Mundo ao Contrário», dos Xutos e Pontapés, 2004) – cantado por Miguel Ângelo.
 
O contexto

1. Foi tudo muito rápido.

Em Junho de 1990, Pedro Ayres Magalhães apresentara na Feira do Livro de Lisboa um recital intitulado «Resistência – As Primeiras Páginas (Canções Ilustradas)», em que a primazia era dada aos poemas, musicados, e interpretados por três cantoras. Em Outubro de 1991, Miguel Ângelo e Fernando Cunha participam num concerto atípico, e convidam Pedro Ayres e Tim para os acompanharem; sob a designação de All-Stars interpretam versões acústicas de canções das suas bandas: os Delfins, os Heróis do Mar, os Xutos e Pontapés. Ficam agradavelmente surpreendidos com o resultado, e decidem adoptar o nome que Pedro criara anteriormente. O projecto desperta igualmente o entusiasmo de António Cunha responsável pela recém-criada agência União Lisboa. No início de Novembro de 1991 já estão a gravar os primeiros temas no Êxito Estúdio, em Lisboa, acompanhados pelo núcleo do grupo Ficções, de Rui Luís Pereira: o próprio Rui («Dudas») na guitarra, Yuri Daniel no baixo e Alexandre Frazão na bateria. Yuri gravará somente dois temas, sendo depois substituído por Fernando Júdice (ex-Trovante); e a entrada do guitarrista Fredo Mergner e do cantor Olavo Bilac completam o elenco inicial do grupo, que se apresentou ao vivo pela primeira vez no Teatro São Luiz, em Lisboa, a 29 e 30 de Novembro. O álbum «Palavras ao Vento» foi publicado no início de Dezembro e tornou-se um enorme sucesso nesse Natal. Desde os primeiros meses de 1992 acumularam uma enorme agenda de concertos – e esse foi um ano de tumultuosa digressão, ao longo da qual foram testando novo repertório. Entre Agosto e Outubro de 1992 (e já com a presença do percussionista José Salgueiro) gravaram nos Estúdios Valentim de Carvalho, em Paço de Arcos, o segundo álbum,«Mano a Mano» – que a 4 de Dezembro foi apresentado ao vivo triunfalmente perante oito mil pessoas no célebre concerto efectuado num armazém do Porto de Lisboa, cujo registo sonoro constitui o terceiro e último álbum dos Resistência:«Ao Vivo no Armazém 22».

2. Foi tudo muito breve.

A digressão ainda se prolongou por 1993, já com a inclusão do guitarrista Mário Delgado, e teve momentos memoráveis – como a participação no Festival Portugal ao Vivo, a 26 de Junho de 1993 – e incursões internacionais. O grupo ainda participou em duas compilações publicadas nos primeiros meses de 1994,«Variações: As Canções de António» e «Filhos da Madrugada Cantam José Afonso». Mas, como era inevitável, esta improvável junção de músicos voltou a cindir-se nas suas diferentes carreiras e projectos. Durou pouco mais de dois anos a fulgurante vida do super-grupo que deu novo alento às canções do nosso folclore urbano com um espantoso trabalho instrumental e um esmero na importância atribuída à palavra, ao tom, à dicção, à prosódia.

3. Reencontro

No outono de 2012 houve um reagrupamento, e a grata surpresa de se verificar que todos continuavam a cantar e a tocar, porventura até melhor – incorporando agora também os guitarristas Mário Delgado e Pedro Jóia. O motivo imediato desses ensaios era um concerto marcado para 19 de Dezembro no Campo Pequeno, em Lisboa. Mas a esse logo se seguiu um outro, dez dias mais tarde, em Guimarães, e depois sucessivas confirmações numa breve digressão ao longo de 2013, que incluiu duas noites no Coliseu do Porto (26 e 27 de Abril), e as actuações no Festival Portugal ao Vivo, no estádio do Belenenses, em Lisboa (22 de Junho), na Expofacic em Cantanhede (31 de Julho), nas Festas do Mar em Cascais (19 de Agosto), nas Festas da Cidade de Bragança (21 de Agosto) e em Montemor-o-Velho (9 de Setembro). Durante o Inverno e a Primavera de 2014, começaram a testar e a ensaiar novo repertório no estúdio dos Xutos e Pontapés, construindo uma lista de temas bastante extensa, que posteriormente foi sendo reduzida; e durante o mês de Abril levaram a sua música aos auditórios de Caldas da Rainha (CCCC, dia 12), Porto (Casa da Música, 15), Lisboa (CCB, 16), Braga (Theatro Circo, 19) e Figueira da Foz (CAEFF, 26). Em Junho, na companhia de António Pinheiro da Silva e Carlos Jorge Vales, iniciaram no estúdio Atlântico Blue, em Paço de Arcos, as sessões de gravação do álbum «Horizonte» – das quais, após mistura e finalização, resultaram as onze novas canções desta orquestra de onze músicos. O repertório prossegue a orientação inicial: canções da música popular portuguesa que merecem uma releitura, que merecem ser ditas e tocadas em versão acústica. Verifica-se um episódico regresso a 1987 com «Cidade Fantasma», dos Rádio Macau, mas todos os outros temas datam destes últimos vinte anos em que os Resistência estiveram longe dos palcos e dos estúdios, e provêm da obra dos Delfins, dos Rádio Macau, de Tim, dos Xutos e Pontapés e dos Madredeus e a Banda Cósmica. As tessituras das guitarras – urdidas com uma precisão de relojoeiro – fornecem uma malha melódica, harmónica e rítmica (com os imprescindíveis Alexandre Frazão e José Salgueiro), da qual se destacam alternadamente os instrumentos de cada um, com seus diversos timbres. As vozes são de Miguel Ângelo, Olavo Bilac, Fernando Cunha, Tim e Pedro Ayres Magalhães, por vezes a solo, sempre unidas nos coros. E o som, é o melhor que jamais tiveram...


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