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domingo, 1 de fevereiro de 2004
FINAL TERMÓMETRO UNPLUGGED – Via Rápida dia 31/01/04
Já passaram 10 anos desde que os Blind Zero venceram a primeira edição do Termómetro Unplugged. Para comemorar esta data festiva a edição deste ano do festival merecia uma final com uma qualidade mais elevada.
A pergunta que se pode colocar é se a culpa desta quebra é apenas da organização. Claro que não! Começa por ser, pois são eles que seleccionam as bandas, mas mesmo neste ponto se a qualidade dos projectos chegados for baixa, difícil será escolher melhor. Deixa de ser, desde a altura em que decorrem as várias eliminatórias onde a banda que passa à final é escolhida por um júri.
Apesar de tudo a curiosidade em ver como projectos que usam como arma de ataque os sons electrónicos, se davam com o acústico era enorme.
Mas o que transparece a quem ao longo dos anos assiste ao termómetro é que a organização se preocupa em demasia com o papel de embrulho que enfeita a mostra e se esquece que a razão de ela existir são as bandas. A tal ponto, que alguns do elementos do júri para esta final foram escolhidos, entre os convidados, à porta do Via Rápida.
Contudo, devemos dar os parabéns ao Fernando Alvim que preparou uma final digna, em que os apresentadores Rui Unas e Valentina Torres souberam estar à altura dos acontecimentos, e em que no final das actuações, o americano “Ricardo Queijo” brindou de forma brilhante o público com as suas versões.
Mas vamos finalmente ao cerne da questão: as bandas.
WEGO
A noite não começou de facto da melhor maneira. Os Wego apresentaram-se nervosos, deixando no ar a ideia de que necessitam de mais ensaios e de uma maior rodagem. Sons a roçar a musica latina, apoiados num pop pouco cativante, que apresentados de forma acústica se mostraram demasiado despidos. Não se percebe como conseguiram arrecadar o terceiro lugar. Mais difícil ainda de perceber é a facto de a vocalista ter ganho o prémio de melhor voz, quando por várias vezes cantou a medo e entrou umas notas ao lado. Ou o júri estava distraído ou a máquina de calcular enganou-se nas contas.
UMPLE TRUE
À segunda ainda não foi de vez. Mas houve melhorias. Começava a adivinhar-se uma noite mais produtiva.
Podia ter sido feliz a ideia de passar para acústico uma musica dos New Order (“Bizarre Love Triangle”) não fosse o facto de os Divine & Satton, nos anos 80 já se terem lembrado de fazer o mesmo. Contudo, esta foi uma das melhores versões da noite.
Souberam de forma eficaz transformar o seu som electrónico, desligando-o da corrente. Faltou no entanto um pouco mais de sal à sua actuação.
Tal como os Wego devem usar a garagem para cimentar ideias e sobretudo treinar.
THE GREY BLUES BEND
Só não foram mais longe, pois o som não os ajudou. Só não foram mais longe porque o público voltou costas à sua actuação, fazendo um barulho ensurdecedor. Enfim, só não ganharam um prémio pois deveriam ter estado mais concentrados, apesar das contrariedades.
Eram a banda que pedia maior silêncio. Eram a banda que melhor se enquadrava neste concurso. Não tiveram que moldar o seu som para virem a este certame. A música que tocam impregnada de referencias neo-country já é acústica desde a sua nascença.
É certo e sabido que Will Oldmam é sem sombra de duvidas a grande musa inspiradora destes The Grey Blues Bend. Mas tocar uma versão deste músico desconhecido da grande maioria dos presentes é um grande risco.
Valeu a intenção. Banda a seguir com muita atenção num futuro próximo.
SINAPSE
Foram a primeira banda da noite com B grande. Projecto recheado de bons músicos, com enorme segurança em palco. Sabem o que querem e o caminho que desejam seguir, o que é raro de ver nas bandas mais novas.
O formato acústico veste na perfeição, e até faz ganhar, o som pop mais maquinado dos Sinapse.
A versão arrojada que fizeram de um tema dos Mão Morta, dando-lhe um tom mais swingado, valeu-lhes um prémio merecido.
No final da noite foram os primeiros. Nada a contestar. Espera-se que o single que vão gravar ainda saia este ano.
LIMBO
Tudo o que se disse dos Sinapse assenta que nem uma luva aos Limbo. Só perderam na escolha da versão. Para uma banda que se move por terrenos trip-pop é demasiado simples fazer uma cover de Lamb. Os arranjos mais jazisticos dos temas, e voz quente da vocalista aqueceram ainda mais a sala, já de si a ferver com o muito público que acorreu ao Via Rápida. Ser segundos é um prémio justo que lhes deve abrir as portas certas num futuro próximo.
Agora que os 10 anos já lá vão, espera-se que a organização cumpra com os seus deveres, que reveja os erros deste ano, e que parta para o novo certame com ideias ainda mais frescas (de louvar o estender das eliminatórias a Lisboa), não se esquecendo nunca que se não forem as bandas, a temperatura do termómetro não sobe.
Nuno Ávila
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