segunda-feira, 5 de abril de 2004

MERCADO NEGRO - Mercado Negro (Toolateman/Metrodiscos)



Três albuns depois, Messias “Jahsoba”, sente que os Kussondula já não têm mais nada para dar. A banda despede-se com um album que facilmente se esquece, depois de terem deixado para a história do reggae nacional temas emblemáticos. Messias no entanto, sente que ainda tem muito para dar, mete mãos à obra e cria os Mercado Negro.
Quando começou a escrever os temas que preenchem este disco, pensou com certeza que a melhor altura para os lançar seria a primavera de 2004. É que estas músicas brilham como o sol, cheiram a flores e trazem consigo o calor da alegria. Só que S. Pedro não foi nesta cantiga, e para assinalar a saída do disco com o Blitz, mandou chuva. Numa altura em que o frio ainda anda pelo ar, temos aqui uma dúzia de temas capazes de nos aquecer a alma e nos fazer sonhar com paisagens tropicais.
Os Mercado Negro levam o nosso corpo em viagem. Um trajecto que passa obrigatoriamente pela Jamaica, mas que não esquece o continente Africano. Se na primeira metade do disco é o reggae mais puro que Messias nos serve, já na segunda metade o som que se ouve cruza muitas rotas. Exemplo disso é o tema “Jah Está Contigo” onde se escuta a voz de Bonga, que nos leva até às terras quentes de Angola. Outro exemplo é a faixa “Sr. Doutor (diga lá)” onde se ouvem Melo D. e Mike Pemba, misturarem ritmos Africanos e de hip-hop com reggae. Na faixa final do disco são os One Love Family que crivam o som de batidas tribais. Na remix do velho tema dos Kussondulola é a vez de Valdjiu dos Blasted Mechanism nos atirar para uma pista de dança.
O primeiro disco dos Mercado Negro traz dentro si uma dúzia de músicas frescas, onde se destaca o belíssimo “Beija-Flor (voa)”, um tema que penetra bem fundo dentro de nós para não voltar a saír. Nunca mais o reggae nacional vai criar uma música assim. Será?
“Mercado Negro” um disco pintado de muitas cores o que o torna original, já que não se resguarda apenas numa tonalidade. Messias revela ser um compositor de vistas largas capaz, de a partir de um ponto fixo criar vários braços de um mesmo som. E é isto que dá de facto gosto ao disco e o deixa desabrochar.
“Mercado Negro” é um cd que pode voltar a fazer acreditar todos aqueles que julgavam que os sons reggae em Portugal tinham já sido vendidos nalgum mercado negro.

Nuno Ávila

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