segunda-feira, 5 de julho de 2004

RODRIGO LEÃO - Cinema (Sony)



Entramos no cinema. Sentamo-nos na cadeira. Esperamos o início do filme. Não sabemos qual a pelicula que vai passar frente aos nossos olhos. Conhecemos o realizador e isso é meio caminho andado para que desejemos ver esta sua nova realização. Pela nossa mente passam filmes. Não o filme. Vários. “Cinema” é feito de inspirações. Busca-se aqui e ali.
“Cinema” inicia com imagens que nos trazem à memória “Cinema Paraíso”. O filme de Giuseppe Tornatore volta a tomar conta da tela quando escutamos “Uma História Simples” e “o Último Adeus”. Um cinema arde… Alfredo fica cego…
No segundo andamento de “Cinema” a brasileira Rosa Passos oferece-nos uma cena nostálgica, onde Ryuchi Sakamoto tem papel secundário. Estamos perante um drama romântico. Há lágrimas que rolam pela face.
Em “Lonely Carousel” Beth Gibbons tem o grande desempenho do filme. A canção francesa marca a sua primeira entrada em cena. A tela é preenchida pelas cores vivas de “O Faboloso Destino de Amélie” . Amélie corre. Escreve-se no ar uma verdadeira “Comédia de Deus”. São “Jeux D’Amour” como nos canta Helena Nogeuerra. As fotos de Nino… O comboio fantasma… A sex-shop… Destinos cruzados. “Memórias” coleccionadas em albuns de fotografias. Enfim, “La Fête”. O amor deve ser uma festa. Tudo pode acontecer, basta que para tal os dois amantes encontrem a mesma “Estrada”.
Agora a estória de amor tem outros contornos. Outras cores. Outros gostos. “Cheira a Cidade Queimada” no ar.
Sónia Tavares mostra-se igual a si mesma em “Deep Blue”, “Hapiness” e “L’ispecteur”. Por momentos revemos “The Filme” realizado pelos The Gift.
Sentimos “O Gosto dos Outros” nos lábios húmidos. Não podemos ficar. Temos outro amor em casa.
Ryuchi Sakamoto, deixa para o final um tema em que o personagem “António” morre de amor. É o fim trágico. The end aparece em letras garrafais na tela.
Saímos da sala com a sensação de termos acabado de escutar o disco mais pop de Rodrigo Leão (é o que tem menos instrumentais). Sem renegar todo um passado o músico entrega-se em “Cinema” à escrita de canções que têm uma formula mais facil de agarrar o público. Será isso um mal? Não! Nem por isso Rodrigo Leão deixou de ser um genial escritor de ilusões. Se ouvirmos com atenção o disco, descobrimos entre as notas que o vestem restos de sons que os discos anteriores já transportavam.
Estamos assim perante um disco em que as 15 canções que dele fazem parte têm uma maneira muito particular de nos prender o coração. Estamos frente a pequenas bandas sonoras criadas com a finalidade de nos fazer ginasticar a mente.
“Cinema” é um grande disco, capaz apenas de ser criado por talentos humildes como o de Rodrigo Leão.
Chego novamente à bilheteira. Compro presença na sessão seguinte de “Cinema”. Sento-me na cadeira e aguardo de novo por outras emoções.

Nuno Ávila

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