Antes de mais convém explicar que este é um texto de opinião. Escrito por quem, numa altura em que se volta a falar das quotas de música portuguesa, tem pontos de vista diferentes do legislador. E diferentes de muitos outros olhares. Contudo, que fique ciente, que este que vos escreve é um convicto defensor da música portuguesa. Que sempre a passou na rádio, sem ser por obrigação.
O problema principal que se coloca logo à cabeça, e que me tem revoltado o interior, é o de saber porque é que se a música nacional não vende o desejável se aponta a rádio como principal responsável ao não divulgar os nossos artistas.
Atente-se no que vem escrito na página de net da SPA: "Entre os 30 discos mais vendidos em 2004 estão os álbuns "Re-Definições" dos Da Weasel (3º lugar), "Concerto Acústico" de Rui Veloso (9º) e "Fado Curvo" de Mariza. Nenhum deles consta da lista dos temas mais escutados nas rádios nacionais". Afinal de contas o problema não é das rádios. A música não passa mas vende. E a que passa muitas vezes fica nas prateleiras das lojas. Temos os casos de Entre Aspas e Clã que sempre passaram nas rádios, mas que não atingem picos de venda.
Não seria mais lógico obrigar as televisões a criar programas de música nacional? Não seria mais lógico forçar os jornais a darem mais páginas à produção nacional?
Mas acima de tudo o que seria mais lógico, era obrigar o legislador a entender que a música é cultura e que por isso o IVA dos cds deveria ser igual ao dos livros. Assim nas lojas os discos ficariam mais acessíveis à carteira, combatendo-se desta forma a pirataria. Não seria bom obrigar o governo a entender que os instrumentos não são bens de luxo, mas material de trabalho para muitos?
Porque é que não se luta junto do Ministro da Cultura para este dar mais incentivos para a criação de salas de concerto. É que, havendo mais locais para mostrar música, o artista deixa de ter apenas a sala de ensaios para tocar. Mostra mais o seu talento, divulga, tem mais trabalho, e tocando mais pode baixar o seu cachet, levando assim a que desçam os preços dos bilhetes. E no fim da noite é capaz de ter vendido mais uns disquitos.
Outro grande problema que esta lei levanta, talvez o mais polémico de todos, é o de tentar definir o que é afinal música portuguesa. A coisa até poderia não ser nada complicada, mas ao que parece estão a tentar dar a volta a um texto de interpretação fácil.
Na minha modesta opinião, por música portuguesa poderíamos entender, ser toda aquela feita por músicos portugueses, não tendo obrigatoriamente de ser cantada em português. Pode até nem ter letra. Ou pode apenas o cantor debitar sons. Sim, porque a Maria João é uma artista portuguesa. Assim como o Maestro António Vitorino de Almeida e o David Fonseca.
Aqui poderíamos abrir uma excepção à regra e meter neste saco, artistas que não sendo portugueses, por aqui vivem, e produzem o seu trabalho, muitas vezes na companhia de músicos lusos. Temos por exemplo o caso dos The Neon Road. Já tivemos o caso dos Itaka, que enquanto o músico viveu em Portugal a sua música passava nas rádios como sendo nossa.
Não consigo compreender o que vi escrito em alguns jornais e na net. No DN de dia 12 de Janeiro deste ano lê-se a dado passo num artigo dedicado a este tema que entende-se por música portuguesa aquela que é "composta ou interpretada em língua portuguesa por cidadãos dos Estados-membros da União Europeia". Resultado: um holandês a cantar na língua de Camões entra para esta estatística.
Ainda noutro artigo do DN lê-se : " PCP, PS, BE e CDS apontam como condição suficiente o facto de a canção ter letra em português (permitindo a entrada de música brasileira e da CPLP, neste último caso uma intenção confirmada pelos comunistas ao DN). O texto do PS define como música portuguesa aquela "cuja melodia se inspire nas tradições, ambientes ou sonoridades que integram o património musical do país, independentemente da nacionalidade dos seus autores ou interpretes" (...)".
Parece muito estranho deixar por exemplo a música brasileira invadir assim o nosso território, quando do outro lado não se move uma palha para ajudar os músicos irmãos.
Uma pergunta que me apetece colocar: se os Gaiteiros de Lisboa recriarem um tema celta irlandês passam a ser considerados na Irlanda como músicos do país?
Não sei qual vai ser o resultado final da lei, mas espero que impere o bom senso.
Já o que é de louvar é a obrigatoriedade de passar uma larga percentagem de novidades. Esperando que quantidade e qualidade possam andar de mãos dadas, prevê-se uma maior produção musical.
Assim escrevo pois sinto, que relativamente a esta lei já não existe forma de ela voltar para trás. E ao contrário da anterior ela vai ser mesmo para cumprir, havendo coimas a pagar pelos faltosos.
Aqui, concordo com o PSD, que ao contrário pede incentivos para quem passar mais música portuguesa.
Concordo com alguns que dizem que o que se está aqui a fazer é impor regras ou seja obrigar a ouvir música portuguesa. Entendo que a música portuguesa deve chegar às pessoas pela qualidade (depende do gosto de cada um, bem sei). Existem bons grupos e artistas que mesmo com a saída desta lei vão continuar no esquecimento.
Por fim deixo no ar esta dúvida: será que com estas quotas se vai passar a vender mais música portuguesa?
A ver vamos...
O problema principal que se coloca logo à cabeça, e que me tem revoltado o interior, é o de saber porque é que se a música nacional não vende o desejável se aponta a rádio como principal responsável ao não divulgar os nossos artistas.
Atente-se no que vem escrito na página de net da SPA: "Entre os 30 discos mais vendidos em 2004 estão os álbuns "Re-Definições" dos Da Weasel (3º lugar), "Concerto Acústico" de Rui Veloso (9º) e "Fado Curvo" de Mariza. Nenhum deles consta da lista dos temas mais escutados nas rádios nacionais". Afinal de contas o problema não é das rádios. A música não passa mas vende. E a que passa muitas vezes fica nas prateleiras das lojas. Temos os casos de Entre Aspas e Clã que sempre passaram nas rádios, mas que não atingem picos de venda.
Não seria mais lógico obrigar as televisões a criar programas de música nacional? Não seria mais lógico forçar os jornais a darem mais páginas à produção nacional?
Mas acima de tudo o que seria mais lógico, era obrigar o legislador a entender que a música é cultura e que por isso o IVA dos cds deveria ser igual ao dos livros. Assim nas lojas os discos ficariam mais acessíveis à carteira, combatendo-se desta forma a pirataria. Não seria bom obrigar o governo a entender que os instrumentos não são bens de luxo, mas material de trabalho para muitos?
Porque é que não se luta junto do Ministro da Cultura para este dar mais incentivos para a criação de salas de concerto. É que, havendo mais locais para mostrar música, o artista deixa de ter apenas a sala de ensaios para tocar. Mostra mais o seu talento, divulga, tem mais trabalho, e tocando mais pode baixar o seu cachet, levando assim a que desçam os preços dos bilhetes. E no fim da noite é capaz de ter vendido mais uns disquitos.
Outro grande problema que esta lei levanta, talvez o mais polémico de todos, é o de tentar definir o que é afinal música portuguesa. A coisa até poderia não ser nada complicada, mas ao que parece estão a tentar dar a volta a um texto de interpretação fácil.
Na minha modesta opinião, por música portuguesa poderíamos entender, ser toda aquela feita por músicos portugueses, não tendo obrigatoriamente de ser cantada em português. Pode até nem ter letra. Ou pode apenas o cantor debitar sons. Sim, porque a Maria João é uma artista portuguesa. Assim como o Maestro António Vitorino de Almeida e o David Fonseca.
Aqui poderíamos abrir uma excepção à regra e meter neste saco, artistas que não sendo portugueses, por aqui vivem, e produzem o seu trabalho, muitas vezes na companhia de músicos lusos. Temos por exemplo o caso dos The Neon Road. Já tivemos o caso dos Itaka, que enquanto o músico viveu em Portugal a sua música passava nas rádios como sendo nossa.
Não consigo compreender o que vi escrito em alguns jornais e na net. No DN de dia 12 de Janeiro deste ano lê-se a dado passo num artigo dedicado a este tema que entende-se por música portuguesa aquela que é "composta ou interpretada em língua portuguesa por cidadãos dos Estados-membros da União Europeia". Resultado: um holandês a cantar na língua de Camões entra para esta estatística.
Ainda noutro artigo do DN lê-se : " PCP, PS, BE e CDS apontam como condição suficiente o facto de a canção ter letra em português (permitindo a entrada de música brasileira e da CPLP, neste último caso uma intenção confirmada pelos comunistas ao DN). O texto do PS define como música portuguesa aquela "cuja melodia se inspire nas tradições, ambientes ou sonoridades que integram o património musical do país, independentemente da nacionalidade dos seus autores ou interpretes" (...)".
Parece muito estranho deixar por exemplo a música brasileira invadir assim o nosso território, quando do outro lado não se move uma palha para ajudar os músicos irmãos.
Uma pergunta que me apetece colocar: se os Gaiteiros de Lisboa recriarem um tema celta irlandês passam a ser considerados na Irlanda como músicos do país?
Não sei qual vai ser o resultado final da lei, mas espero que impere o bom senso.
Já o que é de louvar é a obrigatoriedade de passar uma larga percentagem de novidades. Esperando que quantidade e qualidade possam andar de mãos dadas, prevê-se uma maior produção musical.
Assim escrevo pois sinto, que relativamente a esta lei já não existe forma de ela voltar para trás. E ao contrário da anterior ela vai ser mesmo para cumprir, havendo coimas a pagar pelos faltosos.
Aqui, concordo com o PSD, que ao contrário pede incentivos para quem passar mais música portuguesa.
Concordo com alguns que dizem que o que se está aqui a fazer é impor regras ou seja obrigar a ouvir música portuguesa. Entendo que a música portuguesa deve chegar às pessoas pela qualidade (depende do gosto de cada um, bem sei). Existem bons grupos e artistas que mesmo com a saída desta lei vão continuar no esquecimento.
Por fim deixo no ar esta dúvida: será que com estas quotas se vai passar a vender mais música portuguesa?
A ver vamos...
Nuno Ávila
Sem comentários:
Enviar um comentário