Rastilho Records edita vinil de Jorge Palma "Com Uma Viagem Na Palma Da Mão" - nas Lojas a partir da próxima Segunda-Feira 03´Dezembro 07
JORGE PALMA
"Com Uma Viagem Na Palma da Mão"
LP12"Vinil
"Com Uma Viagem na Palma da Mão" é o primeiro album de Jorge Palma, editado originalmente em 19 de Setembro de 1975, esgotado à mais de 20 anos. A Rastilho tem o prazer de anunciar para a primeira semana de Dezembro´07 uma reedição em vinil preto em capa de 350grs, limitada a 333 exemplares. Remasterizado por Nélson Carvalho nos Estudios da Valentim de Carvalho, "Com Uma Viagem...." tem 13 temas, onde se destacam "Deixem Voar Este Sonho", "Giselle", "Poema Flipão" ou "O Fim". Simplesmente indispensável, um autêntico clássico para um dos melhores songwriters portugueses de todos os tempos.
Distribuição Lojas Fnacs: Compact Records (Pt), Cargo (Germany)
Jorge Palma sobre "Com uma Viagem na Palma da Mão"
Como tinha chumbado [no curso de Engenharia], sabia que ia ser chamado para a tropa. Nesse Verão [de 1973] tinha trabalhado com um encenador dinamarquês que voltou para Copenhaga, e disse-me "Jorge, se quiseres, quando precisares, eu tenho uma casa onde vocês podem ficar". E eu pensei se iria para a tropa ou não, e rapidamente decidi que não. Havia guerra no Ultramar, não me interessava de todo passar quatro anos de farda e pistola metralhadora...
Fui para a Dinamarca. Na casa onde estava tinha um piano de cauda e passava lá horas a trabalhar. Levei uma série de material na cabeça, apontamentos daquilo que seria o meu primeiro álbum. Concebi esse álbum em inglês. Na altura não fazia ideia que ia haver o 25 de Abril; o mercado dinamarquês era muito pobrezinho — havia duas bandas rock e havia um culto pelo jazz já muito antigo — não se estava a passar grande coisa. A minha ideia era gravar em inglês e tentar em Inglaterra arranjar quem estivesse disposto a gravar as músicas desse álbum que se veio a chamar, em português, Com uma Viagem na Palma da Mão.
Com o 25 de Abril, volto [a Portugal] e, de tudo aquilo que tinha transposto para inglês, faço uma retroversão para português outra vez (risos). Resultado: tudo aquilo que tinha escrito primeiro em português, depois em inglês e depois outra vez em português virou completamente. Aquilo que tinha escrito à partida e o que acabou por sair não tem nada a ver, porque entretanto li bastante, a minha cultura literária cresceu um bocado, o choque cultural que tive na Dinamarca…
Esse ano em Copenhaga foi mais importante em termos de politização do que os anos em Portugal em que eu tinha convivido com pessoas bastante politizadas, como era o caso do José Carlos Ary dos Santos. De 1969 a 1973 convivi muito. Todos os dias havia um jantar aqui ou ali, e fui conhecendo cada vez melhor as pessoas que tinham a chave dos estúdios, das editoras, da televisão, da rádio e dos jornais... Portanto, [em 1975] tinha um grande à-vontade para chegar ao pé de qualquer pessoa e dizer, "eu tenho isto". E já tinha nome -- não em termos de público, mas no meio; Já tinha conquistado algum respeito como orquestrador. Trabalhei com muita gente — a Amália será a mais consagrada, mas trabalhei com o Paco Bandeira, com a Tonicha, com pessoas que desapareceram entretanto como o Valério Silva, o Rui de Mascarenhas… — sempre a puxar a brasa à minha sardinha. Não fiz concessões; as minhas orquestrações eram a puxar para a pop/rock, e as pessoas gostaram disso e acreditaram em mim.
Quando chego ao pé do Mário Martins [então A&R da Valentim de Carvalho, que trabalhara muito com Palma enquanto orquestrador] e proponho a gravação de um álbum, o Mário não ouviu absolutamente nada e diz-me "OK, o estúdio de Paço d'Arcos está livre. Está à tua vontade, vais para lá, combinas com o Hugo Ribeiro", que era o técnico de som.
Eu não tinha carro nesse ano, o Hugo Ribeiro levava-me. Não havia problema se chegávamos às nove ou às dez; antes de começarmos a gravar o Hugo contava as suas anedotas, e o estúdio estava por minha conta até me apetecer. Estive um mês nesse esquema. Bateria pelo Vítor Mamede, tudo o que era flautas e saxes o Rui Cardoso, e eu tudo o que era teclas e cordas. Depois, para os coros, convidei os meus amigos.
Foi uma festa gravar aquele disco. Por exemplo, quisemos criar um ambiente de casino; o Hugo Ribeiro cofiava o seu bigode e dizia "casino? Ora bem, que tal pôr-se uma mesa, uns copos com moedas lá dentro a tilintar para fazer as slots e as fichas a cair no pano, vozes e pronto?". E criámos o ambiente de casino para o "Dizem que Não Sabiam Quem Era".
Foi gravado em oito pistas, e eu estava altamente influenciado pelo rock progressivo, em que cada música demorava não sei quantos minutos, com mudanças de ambientes, instrumentos, timbres, ritmos, tempos… com oito pistas era muito difícil, e não havia computadores para automatizar o volume, a equalização, etc. Parecíamos polvos, eu e o Hugo, na mistura: "espera aí que agora na pista 4 vai entrar o sino"… Se uma pessoa se enganasse no fim da música, que já ia em seis minutos, tínhamos de voltar ao princípio para fazer tudo de novo. Foi perfeitamente artesanal e todo esse processo gerou imenso gozo. E hoje ouve-se o disco e vê-se… a todos os níveis, é um disco datado, mas é uma curiosidade. Ouve-se aquilo e uma pessoa sorri, pela ingenuidade… A minha voz, muito fininha, voz de miúdo, apesar de na altura já ter 24, 25 anos… Creio que fizeram uma edição de 500 álbuns que desapareceram. Neste momento são raridades. Eu tenho um porque a minha mãe o guardou, porque entretanto mudei muitas vezes de casa e discos e livros são coisas que vão ficando pelo caminho...
Declarações recolhidas em Dezembro de 2003 e editadas em Julho de 2007 por Jorge Mourinha. Agradecimentos a Maria João Fortes e José Pinheiro
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