Com uma carreira de 25 anos que serve como cartão de visita, RodrigoLeão é um artista cujos créditos firmados falam por si. Um dos maisbrilhantes capítulos da história da música nacional tem o seu cunho!Senhor de um sentido estético e melódico apuradíssimos, confere umasonoridade e ambiente idiossincráticos a cada uma das suas criaçõesmusicais.
Não raras vezes, somos levados a viajar por cenários espácio-temporaisdistantes daqueles em que nos encontramos, ao ouvir a sua música.E foi isso a que se assistiu no concerto de Sábado no CAE da Figueirada Foz: uma viagem pelo universo riquíssimo que ajuda a compor apaleta de sons de Rodrigo Leão. Do tango argentino (com a concertinade Celina Piedade em registo brilhantemente lânguido), à "chansonfrançaise" (os ecos de Edith Piaff, maravilhosos, na voz multilinguede Ana Vieira - destaque maior para esta que é, actualmente, a melhorvocalista nacional -), passando pelos ambientes de "cabaret"germânicos (via Marlene Dietrich), a actuação de Rodrigo Leãoacompanhado pelo Cinema Ensemble foi um deleite sonoro para o públicopresente que enchia a sala.
Com um alinhamento assente no último «Mãe», entrecortado com os seusregistos mais antigos, sobressaíram momentos como "Sleepless Heart"(uma das melhores composições da música feita em Portugal,completamente arrepiante), "Vida Tão Estranha" (cuja melancolia doce eletra inspirada nos embalam suavemente, num tom de «quase fado-pop»)e, já no "encore", "Cathy" (aqui apenas em registo instrumental, sem avoz que a acompanha no disco, de Neil Hannon) e o final, em grande,com o clássico "Pasión" cantado por uma Celina Piedade dançante egraciosa na frente de palco.
Rodrigo Leão não necessita de elogios, mas se tal fosse preciso, omelhor seria o de conseguir transmitir com a sua música uma certa almalusa, que ao longo dos tempos conheceu e se deu a conhecer ao mundo,sem que para isso seja necessário fazer muito esforço: basta apenas"abrir" os ouvidos para sentir a sua emoção.
Texto Fernando Alves
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