Assumidamente um disco cinzento. Uma fuga ao “mainstream” que se vive no fado actual. A importância de viver e sentir o lado mais escuro dos dias, não fugindo a este mesmo lado. Um trabalho de contra corrente. Não queremos entreter, mas antes fazer pensar. Uma possibilidade de fazer sentir criticamente e não somente consumir o que nos dão. Corrente alternativa de fado (ao nível dos conteúdos, da concepção, da produção e de edição). A importância dos fados sobrepõe-se à importância dos fadistas. A procura de um objecto artístico único e não a repetição de outros objectos já criados no passado. O respeito pelo legado que foi deixado, acrescentando depois e de forma harmoniosa a marca dos nossos dias. Assim como se de uma reabilitação arquitectónica se tratasse. Um trabalho artístico contemporâneo. Quando as principais editoras queriam um trabalho popular, fácil de digerir e de rápido consumo, apresentamos pois um trabalho temático/conceptual sério, pensado no tempo e marcante para a história do Fado.
“Assim como quem se não cantar enlouquece, “Sem Dor nem Piedade” carrega pulsões e instintos que se pretendem sublimados, numa tão acutilante partilha de um ego e do seu alter-ego. Num tempo em que quase não nos é permitido sentir, este disco é esse tempo que merecemos e precisamos para nos reparar. Uma arrumação sem fugas à dor e à vista de tudo e todos. Muito mais do que acontecimentos vividos, este disco é a história de lugares sentidos e de um caminho que ironicamente começa no fim, quando a emoção vive o ontem através do hoje e do amanhã e do dia a seguir. Este disco é a história desse fim. E assim será talvez possível pôr em ordem a desordem e, quem sabe, reinventar de novo o amor. Ou, pelo menos, acreditar que assim será.”
Duarte
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