"E eis que, ainda na primeira metade de 2016, a Cafetra tem o prazer de apresentar a estreia em nome próprio de Lourenço Crespo: Nove Canções - tornando cada vez mais óbvio o compromisso de levar para a frente o universo das canções de autor individual mas com espírito colectivo.
Lourenço Crespo tem pouco de estreante – conhecemo-lo pela voz e pelo baixo que galgavam caminho sempre a abrir nos (mais importantes que conhecidos) Kimo Ameba, pelas tão rebeldes e livres canções dos 100 Leio e, mais recentemente, conhecemos o inventivo teclista do Éme e o carismático vocalista dos Iguanas que têm posto toda a malta a dançar de um quarto até à pista do Lux. Desta vez está sozinho mas traz na bagagem todas estas qualidades e muitas mais.
Basta carregar no play que o Lourenço faz tudo o resto por nós, logo a partir do primeiro acorde da Só aparece: teclado a duas mãos para começar a dança, métrica livre mas concreta, batida simples e justa com a real lírica romântica de contradição na mira (“tá toda apaixonada e eu sem vida paga”). Nove Canções abre desta forma e, a partir daí, mostra com uma clareza sem precedentes as imagens todas de um tempo e espaço que ainda estava por cantar. É tudo tridimensional e para isso basta uma bela melodia com as imagens certas: as farturas do Carlitos e o chunga de t-shirt ao ombro na Fantasma, os cães da rua a quem conta o dia e a companhia dos pombos na Novo Par (para não falar do característico “Ai que máximo!” no refrão) ou as “betas a caminho do Santo António” na inesperada versão acapella de Alvalade. Só não vê quem não quer.
Diz-se “panhonha” e “sonso” (Brincar aos cafés), mas o Lourenço só aprumou a rebeldia dos 100 Leio (não fosse logo a seguir, na mesma Brincar aos Cafés, “partir esta merda”). Aprendeu com o Fachada com quem já tantas vezes trabalhou, aprendeu com as colegas Pega Monstro ou com o Éme (a quem ofereceu as linhas de teclado que arquitectam a maior parte do “Último Siso”) e, em Nove Canções tudo parece fácil para ele. Na verdade parece ser um disco sem cânones, construído na primeira pessoa através das virtudes e vícios dos seus pares, conseguindo levar a arte das canções a um patamar de naturalidade nunca antes visto na música de autor portuguesa, coisa que só parece ser possível com humildade e empatia, ou seja, o indivíduo a tirar proveito do colectivo. Nove Canções é uma vida transformada em arte e vice-versa e é por isso que também não lhe falta ambição; “se eu quisesse era quem quisesse/ se eu quisesse era o Kanye West/ vou ser só eu/ o mais difícil é ser quem sou” ouve-se no fim, com a Penantes: vê-se que é verdade. E quem diz o Kanye West diz o Drake ou qualquer outra estrela de R&B, todas as Nove Canções são potenciais hinos comerciais possíveis de contar com uma dança à Hotline Bling mas o Lourenço decidiu mostrar como se faz isso com mais canção do que produção.
Rapidamente chegam ao fim estas Nove Canções mas dá para a viagem ficar completa. O universo do Lourenço está fundado e pronto para quem quiser entrar. É só dele mas, por sorte, decidiu partilhar com todos nós. Não faltou nada e já chega a hora de repetir a viagem. É uma estreia que nada deixa a desejar a não ser a sequela para a qual sabemos que aponta. Seja bem vindo!" Cafetra Records 2016
"Nove Canções" no Bandcamp http://cafetrarecords.bandcamp.com/album/nove-can-es
Kridinhux "A Pensar Em Ti" https://soundcloud.com/cafetrarecords/kridinhux-a-pensar-em-ti
Kridinhux "Junky Love" https://youtu.be/1j_93XWzab4
Concerto: Lourenço Crespo - lançamento de "Nove Canções" + Kridinhux
Local: Grupo Desportivo da Mouraria - Travessa da Nazaré 21
Data: 29 de Abril
Horário: 21h30
Entrada: 5€
Bilhetes disponíveis na noite no local
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