terça-feira, 17 de julho de 2018

ZABRA APRESENTA




















DEPÓSITO DE UMA NATUREZA ACTIVA

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ZABRA002 – V.A. - Depósito de uma Natureza Activa

1. Mr. Herbert Quain – Stimulated/Simulated
2. Manuel Guimarães – Sombras do Tempo
3. I, Alexander – Osso Part II

O segundo lançamento da ZABRA Records reúne três peças musicais compostas originalmente por Mr. Herbert Quain, Manuel Guimarães e I, Alexander para a exposição homónima de João Pedro Fonseca. Extraídas do ambiente da exposição, as três peças preservam uma vida própria que agora renasce na sua edição em digital e, posteriormente, em formato vinil - inícios de Setembro.

Há uma desconfiança que nos perturba: toda a natureza é natureza morta. Sob o inebriamento das luzes da ciência moderna e do seu racionalismo universal, fomos adormecidos num sonho em que, por princípio, todo o Mundo é governado por leis imutáveis que apreendem a natureza como uma matriz de fenómenos transparentes e previsíveis. Emancipado pela técnica, é o Homem que inventa a natureza e se assume como o mestre desse gigantesco depósito, o depósito de uma natureza passiva e morta, transformada num mecanismo que, uma vez programado, continua controladamente a seguir as regras inscritas no programa de uma engenharia absoluta. É esse programa que lhe sacia as necessidades e assegura o progresso que colonizará todos os domínios do mundo natural e das suas imprevisibilidades. Do alto do seu império, o Homem não é apenas piloto e mestre, é também um contemplador: o espectador que observa, com uma distância segura, o cenário prodigioso desse depósito natural, continuamente arranjado, preparado, montado e artificializado para o satisfazer.

Apenas recentemente teremos começado a acordar desse sonho. Quando o impacto humano sobre a Terra é maior do que qualquer outro, pressente-se, enfim, que até o Homem faz parte desse depósito e que o acelerador do seu progresso é também o do seu declínio. A virtude do novo olhar é inseparável do desassossego que o aflige: o depósito rico, e até então silencioso, – a natureza como eterna alteridade da cultura humana – deixa de ser o pano de fundo, o meio envolvente, a figura distante. O que foi dado como seguro é, afinal, instável e, cada vez mais, indecifrável. Como consequência, o momento em que as preocupações ecológicas alertam para a frágil sustentabilidade do mundo natural é também o momento em que a sua dimensão de força maior e activa se torna evidente.

Através de três peças que constituem três momentos distintos, mas relacionados, de problematização destas tensões, “Depósito de uma Natureza Activa” surge como um laboratório livre no qual se joga a possibilidade de se reiniciar a ideia de natureza à luz das mutações presentes: pensar uma natureza activa implica pensá-la a partir da sua face irascível e selvagem, implica, no limite, pensá-la como qualquer coisa que, mesmo que já tenha sido lançada na vertigem do seu apocalipse, continua desgovernada a irromper sob as pegadas do Homem, indiferente aos seus crimes ou às suas esperanças, surda perante os seus cantos ou as suas preces.

As três instalações foram desenhadas e concebidas pelo artista visual João Pedro Fonseca, para as quais convidou três músicos portugueses, de cidades distintas, para trabalhar a sonoplastia e, assim, fundir a sua perspectiva individual do tema com as peças já criadas.

A/ Mr. Herbert Quain V/ João Pedro Fonseca
Stimulated/Simulated
 
A primeira faixa da compilação,“Depósito de uma Natureza Activa”, abre com Mr. Herbert Quain, uma música composta para a peça de videoarte e instalação “Stimulated/Simulated” de João Pedro Fonseca.

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Esta sessão conta com 16 minutos de texturas e policromias das mais variadas forças e formas da natureza. Através de 4 fases, especula-se sobre uma breve história da passagem do Homem pela Terra e da sua relação agonística com a Natureza. Terá havido uma primitiva fase mágica de união umbilical, a qual, progressivamente, foi colonizada por todo o tipo de aparelhos de dominação desse grande depósito natural. Geo-construtivistas de todos os pontos terrestres, munidos das mais complexas ferramentas, dispuseram-se a formar à sua imagem aquilo que, mesmo que aparentemente passivo, dispunha já uma irascível forma original. O desfecho, sempre imprevisível, revelará ao Homem a obsolescência de todos os seus investimentos técnicos. Stimulated/Simulated dá conta dessas passagens ambíguas, nos sons e nas imagens que podem constituir a linha imaginária de um futuro que, esperamos, seja sempre alternativo.

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