sexta-feira, 8 de fevereiro de 2019

MARA PEDRO LANCA TIC-TAC


















TIC – TAC fala do tempo, um tempo para crescer, para amadurecer e perceber as escolhas que a vida foi exigindo à fadista, que desde muito jovem se deparou com duas estradas paralelas, onde a velocidade e o tempo a percorrer se foram estreitando, fundindo-se numa única via, por uma única condutora, Mara Pedro.

Fadista e estudante de Medicina Dentária, desde cedo percebeu o valor do tempo, o tempo que dá e tira, vai e vem, como o mar que bate na areia, acreditando sempre, que não precisa de escolher um só caminho, que deseja ficar com o que o tempo lhe der e permitir fazer. Esta é a sua mensagem: “Podemos ser o que nos propusermos ser”
Criou uma capacidade de se abstrair do que não quer, conseguindo focar-se no que deseja, mesmo não sendo no tempo certo. Se tiver de estudar horas antes dos concertos, ou mesmo depois deles, entra e sai de palco, apresentando o mesmo profissionalismo e aquele sorriso que a caracteriza.

Após tres álbuns editados e inúmeros concertos por vários países (Espanha, França, Lituânia, Suíça, Alemanha, América, Canadá e Brasil) Mara Pedro conheceu outras culturas, ouviu outras histórias e foi construindo a sua, escrevendo durante as longas viagens de avião. TIC-TAC foi assim construído, como um diário de bordo, onde escreveu o que foi vivenciando e sentindo, desfrutando de um tempo que era só seu.

 O mestre Custódio Castelo, seu grande amigo e produtor teria que fortalecer esse projeto, com a sua capacidade de perceber, o que a Mara queria dizer nos seus poemas.

 Foi um processo difícil e nas suas palavras mais ternas o Mestre dizia: “A Mara ainda não sabe o que quer, mas sabe muito bem o que não quer.” E, depois de horas indeterminadas, de avanços e recuos, onde o cansaço do corpo era ultrapassado pela vontade de ouvir o resultado, mesmo nos momentos de exaustão, Mara nunca se deixou vencer pelo cansaço e, lá estava o mestre: “Querida, queres parar?” - e do outro lado vinha a resposta: “Não, bora lá com isto”

Custódio Castelo foi muito mais que um produtor, ou Mestre da guitarra portuguesa, ele é um exímio educador, com a sensibilidade de perceber que não podia parar a criatividade da Mara deixando assim fluir o que ela queria transmitir.
O último dia de estúdio terminou cedo, todos estavam contentes, iriamos jantar a horas “normais”. Mas, antes de abandonar o “barco”, Mara e Custódio quiserem voltar a ouvir todos os temas: ”O RIO CORRE AO CONTRARIO, não gravámos?” Mestre: “Deixamos para depois do jantar?” Mara: “Fiquei sem fome…”

O álbum traz a sonoridade de um TIC-TAC e a nostalgia do FADO MALHOA, passando por uma morna encantadora, em jeito de um SUAVE MEDO e a força de construir um caminho mesmo quando o RIO CORRE AO CONTRÁRIO.

 Amália Rodrigues, sua grande inspiração ditou a escolha de dois fados em francês QUAND LES FILLES VONT AU BAL e LA VILLE S´ÉVEILLE. Também estes tiveram a sua história, dando origem a mais uns dias de gravação, na companhia de um cantor Francês, para ajudar na dicção, pois cantar e falar são coisas distintas e a pronuncia francesa tem os seus “sons” difíceis de interpretar.
O seu nome é TEMPESTADE quando sente a força que não consegue reprimir, dando voz ao poema de Carla Tavares, sua conterrânea.

 Durante a viagens desenhou castelos no ar e criou histórias de histórias, em que Dª CARDEALA será a mentora de uma cusquice que alimenta qualquer mundinho.

 Deixa transparecer quem é, no FRUTO DO DESTINO e, brinca FORA DA CAIXA esboçando um PONTO PLUMA que a liberta ao som de uma valsa.

 E, para quê chorar sobre o mar se o mar já tem tanta água, pela vontade do poeta Mário Raínho, um CHORO À BEIRA MAR embala qualquer coração distraído.
Cantar LONGE DAQUI tem sido o seu percurso e levando na sua voz a saudade do que é português, a cada português no mundo.

A fadista tinha 9 anos quando conseguiu conquistar 3 prémios: melhor letra, melhor música e melhor interpretação. Como uma recordação de menina o tema POVO INTEMPORAL fecha assim o seu álbum.

A possibilidade de ter mais vidas que os gatos, podermos seguir vários caminhos em simultâneo e, sermos o que nos propomos ser, é a sua mensagem, tudo numa fração de segundo de um TIC- TAC

Ouvir Mara Pedro cantar é deixar-se embalar pela doçura da sua voz.
A menina de Viseu, longe do meio do fado, tem na voz um destino que contará uma história.

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