quarta-feira, 25 de setembro de 2019

S, PEDRO NO PORTO












"Mais Um" é o novo disco de S. Pedro, que confirma tudo o que pensávamos sobre ele e acrescenta mais algumas pistas sobre a consolidação e projecção da sua carreira.

No próximo Domingo, dia 29 de Setembro, S. Pedro apresenta as novas canções ao vivo, na Casa da Música no Porto. (link)

Pedro Pode, ou S.Pedro, é um tipo honesto e criativo, uma espécie de vizinho do lado que conhecemos, cumprimentamos e com quem damos duas de letra para depois descobrir, com orgulho, que um gajo tão simples e porreiro é afinal o autor de uma mão cheia de canções que já entraram por direito próprio para o cancioneiro nacional. Porque este exímio compositor e letrista não embarca em modas e faz música genuína, que nasce do binómio inspiração-transpiração, em doses variáveis, mas que assenta sobretudo na vida de todos os dias. Na sua, que também poderia ser a nossa.

Canta-nos pequenas histórias, invariavelmente atravessadas por uma ponta de ironia e humor, mas sempre com princípio, meio e fim. E olha a meios para chegar a finais felizes que, invariavelmente, nos remetem para novas escutas, para saborear melhor o que ouvimos, perceber melhor o que nos quer dizer, descobrir novos pormenores ­— nas melodias que nos enlaçam, nos diálogos instrumentais que tanto nos transportam para sítios melancólicos como para lugares de sonho, nos fazem bater o pé ou dançar, nas referências que não apanhamos à primeira (porque este é um homem do Norte e usa o Andante) — e, eventualmente, esboçar mais um sorriso, desencantar mais um sentido, e partilhar tudo com quem gostamos. Partilhar mesmo, porque é uma música de partilha. Não da partilha bacoca e imediata em busca de um like (para quê...?) mas daquela que leva agarrada um pedaço de nós. Uma música que nos toca, e que temos para a troca.

Como diz em “Apanhar Sol”, o single que marcou o Verão de 2018, «tens de ir lá mexer, tens de ir lá tocar». O contacto e os olhos nos olhos ao invés da mediação digital e do ecrã como espelho fosco da alma, no fundo, o conhecimento adquirido pela prática, pela tentativa e erro, é uma das temáticas caras a S. Pedro. «O mundo é onde eu calcar o chão», ouve-se em “Mundo”. E até mesmo num outro mundo, na incursão sci-fi (X-Files encontram-se com “Era uma vez o espaço”), há que «confirmar as tretas sobre o espaço que há tanto tempo» ouve. No fundo, aconselha a meter as mãos à massa, à obra, à vida, não protelar nem fugir ao amor, nem à realidade com que somos confrontados. Em “Todos os meus amigos” faz-se esse elogio da normalidade, envolto em crítica mordaz, com balanço soalheiro e alegre, e já o imaginamos a discorrer sobre a temática em modo churrasco e jola. Com os amigos, naturalmente. Em “Música do outro”, reforça o seu código de vida apontando o dedo à música enquanto mero entretenimento e produto pré-fabricado, ao invés de forma de expressão e veículo de mudança.

Há muito amor e desamor, paixão e ciúme, oportunidades perdidas (umas quase de propósito outras porque sim, num certo culto do falhado…), canções para todos os (bons) gostos que funcionam isoladamente e enquanto tijolos de um disco sólido e inteligente, de um artista que continua a crescer e a conquistar por direito próprio um lugar de relevo e destaque entre os maiores.

Luminoso e inspirado, abençoadamente pop, "Mais Um" é o novo disco de S. Pedro e chegou hoje às lojas em CD, streaming e download. Disponível aqui (link).
 
«Este foi mais um disco que escrevi. Cá em casa também me apareceu mais um a comer à mesa e no fundo eu também sou mais um à procura de um lugar ao sol.

"O FIM", o disco anterior, ajudou-me a perceber o que é que eu pretendia com a música e que postura deveria assumir enquanto compositor e intérprete. Aprendi a gostar da consistência e do método. Apercebi-me que nem tudo tem de ser espectacular e que não pode valer tudo. Há um percurso a percorrer. E quando começo a achar que o percurso já está a ser longo demais, penso naquela frase que o pessoal costuma usar nas redes sociais “O que interessa é a viagem”. Eu estou nessa viagem e está a ser fixe.

De um ponto de vista mais técnico, tentei fazer com que o "MAIS UM" fosse um segundo disco como manda a lei, ou seja, mais coerente e com uma personalidade mais definida. É um disco que funciona em grandes palcos mas também funciona só com uma viola à fogueira.»

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