sexta-feira, 9 de abril de 2021

SENHOR JORGE ASSINALA EDIÇÃO DE EP COM VIDEOCLIP “PALHAÇO”



Single “Palhaço”

A dada altura, quando se olha para trás, surge — e se... —
e se eu tivesse ido antes por ali...? 
É o tempo perdido que nos deixa sempre mais marcas.
E, ao mesmo tempo, seja qual for a nossa condição, qual teria sido a melhor decisão.
Os tempos modernos, das máquinas espaciais, fazem de nós, descartáveis.
Sacam de cada um, toda a energia, numa ânsia desmesurada — é preciso, é preciso, é preciso...
É preciso mais uma horinha à caixa, é preciso mais esforço, é preciso o diabo a sete.
E depois, vê-se, tudo se reduz a lixo, incluindo nós mesmos — a pergunta fica, em prol de quem esta sofreguidão toda?
De qualquer forma, somos todos uns palhaços.

Texto de Pedro Bastos, Realizador do Vídeo “Palhaço”

Senhor Jorge ou a beleza dos encontros

É sabido que as igrejas são mais do que lugares de culto. Tantas vezes, ao longo da história e em diferentes partes do mundo, foram refúgio de quem não tinha outro abrigo. De quem, como os timorenses que lutavam contra a ocupação, encontrou nas igrejas um lugar de proteção e de resistência contra a opressão. De quem, como os sem-papéis e os sem-direitos, as ocupou e as tornou ponto cardeal de um movimento, como aconteceu com os imigrantes indocumentados em Paris ou as prostitutas em Lyon. De quem, como os peregrinos que percorrem quilómetros e quilómetros a pé ou de bicicleta, busca nelas a meta de um caminho percorrido que é, afinal, acima de tudo, uma viagem interior. De quem, como os viajantes que precisam de repousar, encontra nas Igrejas enclaves ao arrepio das cidades-mercadoria, portas abertas sem consumo obrigatório.

Mas são ainda as igrejas – e porventura sobretudo! – lugares de encontro. Foi na Igreja da Misericórdia de Viseu, feita palco de teatro e música em 2018, que um punhado de artistas (Rui Sousa - Dada Garbeck, João Pedro Silva - The Lemon Lovers e Gonçalo Alegre - Galo Cant’às Duas) viria a conhecer o Sr. Jorge Novo, sacristão, ex-lapidador de diamantes e ele próprio uma preciosidade escondida que rapidamente conquistaria o coração de quem o ouviu. Foi desse encontro inesperado e feliz, foi dessa surpresa e dos afetos que ela desencadeou, que nasceu este E.P. sr. jorge, exercício generoso de troca e de diálogo criativo entre universos artísticos que, frequentemente, estão condenados a viverem separados.

Beirão de origem e fadista por paixão, o Sr. Jorge é um exemplo. Exemplo de que a expressão artística não é monopólio de especialistas e de profissionais, mas antes a necessidade e a capacidade que todos temos (até os artistas!) de comunicarmos através dos sentidos. Exemplo de que a música toca em lugares da nossa emoção sensível que a transformam num território que une, muito para lá das fronteiras rígidas dos estilos, das gerações e das proveniências sociais. Exemplo de como, a partir da convocação fraterna de vontades de gente da música, do teatro e da militância cultural, é possível fazer nascer um disco assim em Viseu. Exemplo de como são os encontros improváveis que põem em comum os dessemelhantes – o que é, afinal, o modo mais fundo e transformador de fazer comunidade.

Neste E.P. temos ambientes sonoros contemporâneos que se juntam – ou aos quais se junta – a voz vivida e emocionante do Sr. Jorge. Temos uma espécie de lamento musicado sobre um passado que já foi, sobre um presente de saudade e de desencanto, sobre o envelhecimento e a perda, as alegrias e as tristezas, a memória das gargalhadas, dos desesperos e das paixões. Temos o amor – e sempre, implacável, o tempo. Temos, acima de tudo, o efeito de múltiplos e fecundos encontros cujo resultado agora se oferece à nossa fruição. Só temos de agradecer e aproveitar.

Texto de José Soeiro

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