O tempo tem o poder de curar e de transformar, e parece que é isso que Almirante Ramos vem fazendo desde 2020, olhando para o seu passado e reinterpretando-o.
O EP 'Reinterpretações' só podia existir pela mão dele, ao pegar em três das quatro músicas do primeiro EP d'O Verão Azul, a primeira banda que teve com a sua namorada, que se tornou mulher e mãe dos seus filhos e por fim ex-companheira.
Além dessas três músicas, Almirante recupera "Amantes Eternos", canção misteriosa de início de noite, e reinventa a "Fogo de Artifício", agora em versão lenta. Todas elas do seu antigo catálogo. É preciso ter coragem para enfrentar o legado e transformá-lo em algo novo, em algo que sem deixar de ser imperfeito ganha um significado maior e mais forte. O período azul do artista, a cor que domina os seus primeiros trabalhos, 'Cinco Canções', 'Fiel ao Romance' e 'Reinterpretações', está completo. A luz que emanava das canções originais deste período tornou-se ainda mais brilhante.
A produção de Gagliardini Graça, que também canta na canção "A Praia e a Cidade", a voz sempre maviosa de Rita Borba na canção "Baile", e a visão, através da voz e da escrita, de Almirante Ramos, claro, tornam este meio disco um objecto solar e celebratório da passagem do tempo e de que ele pode sempre transformar a perda e a tristeza em alegria e felicidade, ou pelo menos num misticismo do que isso poderá ser.
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