Fotografia Nuno Coelho
Numa era onde cada vez se sabe menos a importância das pessoas e se dá mais valor a um ecrã ou imagem, onde o retrocesso começa a avançar mais rápido que o progresso, onde o consumo se transforma em cansaço e a produção em exaustão e a incerteza ganha cada vez mais espaço, é tempo de gritar!
Que Pesadelo! é como tentar acordar de um, mas é apenas uma comédia!
O segundo disco de As Docinhas revela a necessidade que as mesmas têm em juntar toda a gente no mesmo sítio, continuando a propor um espaço para quem se quiser expressar ou libertar, seja dos outros seja das suas próprias certezas.
Rodeadas de pessoas que insistem em manter este projeto vivo e fresco, e com raiva suficiente para criar rock mais pesado, querem poder juntar quem normalmente não se junta no mesmo ambiente. Querem que todes mexam cabeças e, até, criar uma nova fauna. Porque, o mais importante sempre foi fazer música inspirada nas pessoas e para as pessoas.
Com a mudança dos tempos muda, também, a música e engane-se quem pensa que está perante um projeto DIY. Esse nunca foi o objetivo e nunca será. O objetivo é sim tentar inspirar milhões a sair de casa e ir para a rua reclamar e lutar pelo que é seu e mais! As Docinhas querem injectar o punk na vida dos que chegaram na era do tik tok e mostrar-lhes onde vão ser felizes.
A sua versatilidade permite-lhes agradar tanto a gays como ao hétero-top, deixando a premissa de que não têm medo de agir, caso seja necessário!
Neste disco pode encontrar-se uma sonoridade que varia entre as guitarras agressivas com distorção do metal, as músicas country com violinos ou até baladas com sintetizadores dos anos 80. Os saxofones não são novidade mas surpreendem sempre e a equipa nunca desilude.
No fundo, servem um cocktail que vai do punk ao blues, do clássico ao free, passando por alguma eletrónica. Onde as sensações, os sentimentos, os desejos, os sonhos e os pesadelos estão num circle pit, num mosh intenso e electrizante.
As Docinhas não são duas!
Que Pesadelo! tem como participantes André Fernandes e Zé Cruz (guitarra), Zé Almeida e Fred Severo (baixo), Diogo Alexandre e Pedro Antunes (bateria), Ménito Ramos, Pikachu Lacerda e André Fernandes (teclas e sintetizadores), Tiago Vigia e João Gato (saxofone) e Taw Tembe (trompete). Foi produzido, misturado e masterizado pel’As Docinhas e André Fernandes e teve como single de antecipação “Kate” que saiu no dia 8 de Maio acompanhado por um videoclipe.
Foi em 2016 que As Docinhas se formaram em Viana do Castelo. Inicialmente eram Cire Ndiaye (vocal, violino), Lee Meneres (vocal, guitarra) e Alex Vieira (vocal, guitarra).
Após a morte de Alex, aos 23, em 2017, As Docinhas lançaram o primeiro álbum - XANDO - que acabou por sair em 2021. É um disco que materializa o sentimento de rebeldia e revolução de Alex através do seu som agressivo e cru.
Ao vivo, têm uma performance muito variada, assumindo uma postura mais punk. Complementam o espetáculo com elementos performativos como dança, magia, pole dance, strip tease etc. A banda conta geralmente com 5 a 7 músicos em palco, incluindo Cire e Lee.
O principal objetivo da banda, como profissionais das artes, é partilhar e exteriorizar as ideias através da música, tendo vindo a receber um feedback bastante positivo.
A guitarra de Lee representa um sentimento de feiura e cria um espaço para o ouvinte sentir raiva e, ao contrastar com o violino louco e a voz forte de Cire, As Docinhas, torna-se num espetáculo sensual de comédia, muitas vezes mal interpretado como ironia.
Instrumentalmente, misturam instrumentos de jazz com riffs assanhados e distorcidos, letras sujas com uma performance frenética, contando também com elementos de electrónica e ritmos alucinantes.
As Docinhas convidam todos os espectadores a encontrarem o seu lugar na música punk.
Depois de XANDO, lançaram dois videoclips e dois singles lançados entre 2022 e 2023, tendo percorrido vários palcos nacionais como Safra, CSA A Gralha, Núcleo A70, Palco Ruc – Queima das Fitas Coimbra, Understage Rivoli - Teatro Municipal do Porto, Festival Tremor e Musicbox Lisboa, entre outros.
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