terça-feira, 16 de julho de 2024

DAR A OUVIR O SOM DE TODAS AS COISAS EM COIMBRA





















Entre 18 de julho e 1 de setembro, o Dar a Ouvir renova o convite à escuta atenta do mundo, através de um programa artístico que, em 2024, acolhe artistas de várias proveniências geográficas - Brasil, Eslovénia, Espanha, Portugal e Suécia - mas cujos trabalhos confluem no vasto domínio de investigação artística e académica em torno do som. Gil Delindro traz exposição “A Natureza não reza” a Coimbra.

Esta edição do projeto coorganizado pelo Serviço Educativo do Jazz ao Centro Clube e pelo Convento São Francisco / Câmara Municipal de Coimbra contempla concertos, conversas, exposições, oficinas e performances sonoras que vão decorrer em vários espaços do Convento São Francisco e no Salão Brazil, unindo as duas margens através da ponte entre dois dos principais espaços culturais do Centro Histórico de Coimbra.
Esta 8.ª edição aprofunda algumas das questões já presentes nas anteriores, nomeadamente através de um renovado interesse na escuta do não-humano. A paisagem sonora da cidade continua a ter um carácter central e fundacional, mas as representações sónicas dos ambientes urbanos e as comunidades humanas passam a partilhar o lugar de escuta com todas as outras coisas que compõem o mundo.

É precisamente esse o enfoque de um dos trabalhos que merece destaque na presente edição do Dar a Ouvir. “A Natureza não reza” é a primeira grande exposição individual em Coimbra do artista Gil Delindro, nascido no Porto e premiado internacionalmente pelas suas instalações e esculturas, onde mistura elementos orgânicos e captações sonoras provenientes de paisagens adversas. Para Delindro, “dizer que a Natureza não reza, é acolher essa comunicação não-humana e dar-lhe um lugar de afeto, importância e reflexão. Em suma, trata-se de aceitar a nossa posição de vulnerabilidade, ao atribuirmos importância a algo que não pode ser totalmente compreendido através de conceitos verbais, sejam estes filosóficos, religiosos ou científicos”.
Abarcando vários trabalhos, já apresentados isoladamente em lugares como a Fundação de Serralves, o Festival Lisboa Soa e museus e festivais internacionais de referência, o carácter único desta exposição de Delindro, torna-a um dos motivos mais fortes para visitar o Convento São Francisco durante o período em que estará patente, de 18 de julho a 1 de setembro.

“Se o não-humano, tal como o subalterno, pode falar, como o escutamos?” A pergunta a que Gil Delindro tenta responder guia igualmente o trabalho da artista sonora eslovena Petra Kapš, que vai apresentar no Dar a Ouvir o resultado da residência artística que fará na Aldeia do Xisto da Cerdeira, na Serra da Lousã. Petra Kapš especializou-se no campo da geo-acústica, tendo um importante corpo de trabalho na confluência entre a arte sonora, a poesia, a performance e a arte radiofónica, desenvolvendo em vários contextos arquivos sonoros topográficos, intervenções no espaço público e explorações da memória através do som e da perceção.
A presença da artista eslovena é resultado de uma parceria que o Serviço Educativo do Jazz ao Centro mantém com a Associazione Culturale Interzona, uma organização italiana que organiza o Festival Liminaria, que possui muitas linhas em comum com o Dar a Ouvir. Assinalando a colaboração, Leandro Pisano, Presidente da associação, estará também presente e participará de uma roda de conversa em que explicará, enquanto curador, como se desenvolveu o trabalho de Petra Kapš no Vesúvio, precisamente antes da sua residência na Cerdeira.

Nesta edição, o Dar a Ouvir inaugura, também, uma outra parceria internacional, desta feita com a Fundación Cerezales Antonino y Cinia, instituição cultural espanhola sediada em Cerezales Del Condado, uma pequena localidade a poucos quilómetros de Léon (Espanha). Sob proposta de Luis Martinez Campo, curador da Área de Som e Escuta da Fundación Cerezales Antonino y Cinia, o Dar a Ouvir acolherá uma residência artística da dupla Raquel G. Ibáñez e Ignacio Martínez, que apresentarão uma iteração da sua recente criação “Invoca Vento”, estreada recentemente em Cerezales Del Condado.

O MS02 (Mobiliário Sonoro) volta a ser disponibilizado ao público, contendo sons da cidade prontos a saltar das suas gavetas. MS02 (Mobiliário Sonoro 02) é uma instalação interativa destinada à descoberta e interpretação de sons pertencentes ao Arquivo Sonoro do Centro Histórico de Coimbra (ASCHC), uma coleção de paisagens e marcos sonoros recolhidos pelo Jazz ao Centro Clube sob a direção artística de Luís Antero. Apresentado sob a forma de um armário e elemento pertencente a uma coleção de mobiliário-objetos sonoros desenvolvidos em torno do ASCHC, o MS02, a partir dos atos de abrir e fechar gavetas, propicia a exploração artística, lúdica e educativa do arquivo.

Num registo diferente, o Dar a Ouvir acolhe os concertos dos brasileiros Mbé & Lcuas e Cinemascope, do trio sueco liderado por Nils Berg, com Josef Kallerdahl e Konrad Agnas. Enquanto que Mbé e Lcuas apresentam “Mimosa”, um projeto de antropologia e arqueologia musical que resgata a sonoridade e o movimento dos corpos negros brasileiros, seus ritmos e linguagens múltiplas, o Cinemascope de Nils Berg apresenta o cine-concerto Basilicata Dreaming, resultado da viagem que Nils Berg e o videasta Donovan von Martens fizeram a Basilicata, uma região montanhosa no calcanhar da bota (Itália). Graças a uma encomenda de 5 parques nacionais da região, ficaram 10 dias e fizeram as gravações de campo (áudio e vídeo) que viriam a dar origem a Basilicata Dreaming. Neste trabalho, Nils Berg (saxofones, flauta), Josef Kallerdahl (baixo elétrico) e Konrad Agnas (bateria) tocam ao vivo e interagem com as imagens projetadas atrás do trio. Vemos e ouvimos as senhoras a cantar enquanto lavam a roupa no tanque público, agricultores cantando temas tradicionais, etc.

O Dar a Ouvir será também casa para os “Mil Pássaros”, um projeto da Companhia de Música Teatral, feito a muitas mãos, com a colaboração de educadoras, auxiliares de educação e as crianças de 48 salas de Jardins de Infância do Município de Coimbra. Integrou ações de formação dirigidas às educadoras e celebrou o mundo dos pássaros promovendo e acolhendo atividades nos Jardins de Infância como a Oficina dos Pássaros ou PaPI - Opus 8, uma peça de música teatral. O Gabinete do Pássaro acompanhou todo o processo, contribuindo para a boa qualidade das práticas artístico-educativas junto da comunidade pré-escolar e sempre em perfeita harmonia com as equipas de mediação da Divisão de Educação e do Convento São Francisco.
A instalação "Mil Pássaros” é o resultado de um processo de partilha. Uma "inúmera mão” de crianças e adultos fez nascer pássaros na ponta dos dedos que depois se juntaram em "murmuração” visual e sonora afinada pelo desejo dum mundo melhor. Estes pássaros de papel, ou orizuros, realizados de acordo com a arte do origami são, segundo a tradição japonesa, símbolo de paz e felicidade. E, diz-se, os desejos cumprem-se quando se fazem mil orizuros.

PROGRAMAÇÃO COMPLETA

Quinta-feira, 18 julho. 18h00
Convento São Francisco
Inauguração das exposições no Convento com visita guiada por Gil Delindro, Companhia de Música Teatral e Pedro Martins + Tiago Martins

Quinta-feira, 18 julho. 19h00
Convento São Francisco - Café Concerto
Roda de conversa com a presença de artistas e curadores convidados para a edição de 2024, mediada por Pedro Martins

Até 1 setembro
Convento São Francisco
Exposição "A Natureza não reza", de Gil Delindro

Quarta a segunda-feira, até 1 setembro. 15h00 às 20h00 (última entrada às 19h30)
Convento São Francisco
Exposição "Mil Pássaros", pela Companhia de Música Teatral

Quarta a segunda-feira. até 1 setembro. 15h00 às 20h00 (última entrada às 19h30)
Convento São Francisco
Exposição MS02 (Mobiliário Sonoro 02), por Cristiana Bastos, Pedro Martins e Tiago Martins

Sexta-feira, 19 julho. 19h00
Convento São Francisco - Caixa de Palco
Performance sonora “Invoca viento”, de Raquel G. Ibáñez + Ignacio Martínez

Sexta-feira, 19 julho. 22h00
Salão Brazil
Concerto de Mbé & Lcuas

‍Sábado, 20 julho. 15h00 às 17h00
Instalação Mil pássaros - Foyer
Oficina Pássaros Imaginários para Famílias com crianças M/4
Bilhete: 2€

‍Sábado, 20 julho. 17h00
Convento São Francisco - Sala Conventual
Apresentação/performance de livro de Marta Cerqueira e Simão Costa

‍Sábado, 20 julho. 22h00
Salão Brazil
Apresentação da residência artística de Petra Kaps

Domingo, 21 julho. 18h00
Convento São Francisco - Sala D. Afonso Henriques
Concerto: Basilicata Dreaming de Nils Berg Cinemascope

Segunda-feira, 22 julho*. 09h30 às 12h30
Instalação Mil pássaros - Foyer
Oficina Pássaros Imaginários (dos 4 aos 10 anos)
Bilhete: 2€

Quinta-feira, 25 julho*. 09h30 às 12h30
Instalação Mil pássaros - Foyer
Oficina Pássaros Imaginários (dos 11 aos 14 anos)
Bilhete: 2€

Domingo, 31 agosto. 17h00
Sala D. Afonso Henriques (Antiga Igreja)
Performance sonora de Gil Delindro
Programa partilhado com o Festival CEM PORTAS

*As oficinas dos dias 22 e 25 de julho incluem visita guiada à exposição “Dar a Ouvir: O Som de todas as coisas”. Os participantes da oficina do dia 25 de julho deverão, se possível, trazer um smartphone.

PROGRAMAÇÃO CONVERGENTE
 
Sábado, 27 julho. 19h00
Praça do Comércio
Concerto Arquivo Sonoro I (Joana de Sá, Meta e Rita Dias)
em parceria com Festival Verão a 2 Tempos * Epicentro

Sábado, 31 agosto. 19h00
Convento São Francisco
Concerto Arquivo Sonoro II (João Hasselberg, Rui Maia e Pedro Melo Alves) em parceria com Festival Verão a 2 Tempos * Epicentro

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