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terça-feira, 16 de março de 2004
MANIFESTO
O CONVITE ESTÁ FEITO
Os EZ Special convidam três artistas nacionais para integrar uma compilação, intitulada “Manifesto”, a ser distribuída gratuitamente com o jornal Blitz, num total de 20.000 cópias, hoje, dia 16 de Março, com o apoio da Antena 3.
Além de dois temas inéditos dos EZ Special, o CD “Manifesto” inclui temas dos aveirenses Anger; do novo projecto Mentes Conscientes (onde milita D-Mars, uma das figuras mais activas do hip hop nacional); e dois temas dos veteranos Mão Morta, incluindo um inédito do seu próximo álbum, a ser editado em Abril.
Apesar de terem conseguido marcar a diferença e quebrar com os preconceitos existentes em relação às novas bandas, os EZ Special não se deixaram corromper pelo sucesso. Mesmo depois de terem conseguido editar o álbum de estreia por uma multinacional – Universal Music –, de terem ocupado um lugar de destaque nas playlists das rádios, dos muitos concertos por todo o país, e de serem autores de um single que, entre o seu próprio álbum e as compilações nos quais foi incluído, vendeu mais de 250.000 cópias, a banda de Santa Maria da Feira está ciente de que a realidade que aflige a maior parte dos artistas nacionais é bem diferente da sua.
E é nesta altura, em que tantos discutem os problemas da música portuguesa, que os EZ Special alertam para a necessidade de se passar à prática. Isto só se consegue se houver uma união entre os artistas nacionais, já que os objectivos são os mesmos: criar condições para que a música portuguesa se consiga implementar e vingar.
O convite está feito.
ALINHAMENTO DO CD “MANIFESTO”:
EZ Special
«In n’Out» (Inédito);
«Blue Song» (Inédito).
Mão Morta
«Estilo» (Inédito)
«Berlim (Morreu a Nove)» (extraído de “Carícias Malícias”, Ed. Cobra, 2003)
Anger
«Upside Down» (extraído de “The Bliss”, Ed. Cobra, CD, 2003);
«Another Game» (extraído de “The Bliss”, Ed. Cobra, CD, 2003).
Mentes Conscientes
«A Cidade Respira» (Inédito);
«Manter a Chama Acesa» (Inédito).
MANIFESTO EZ SPECIAL
- O debate nos últimos tempos;
- Ultrapassar os limites do contributo intencionado;
- A questão da língua portuguesa;
- A concertação das partes envolvidas;
- A imprensa, particularmente as publicações especializadas de música;
- As televisões generalistas;
- A ineficaz protecção da propriedade intelectual;
- O enquadramento legal da profissão de “músico”;
- Os grandes festivais em solo nacional;
- A questão do IVA.
O manifesto tornou-se imperativo porque nos tempos mais recentes tem-se debatido sobre a «música portuguesa».
As opiniões não são consensuais, pelo menos no que respeita a certas matérias.
Esta diversidade de perspectivas apenas demonstra que a “música portuguesa”, independentemente do que convencionem incluir neste rótulo, está viva e de boa saúde, e que os seus intervenientes são partes interessadas e activas na defesa dos seus princípios.
O que pretendemos, pois, é apenas dar o nosso contributo. Não esperamos que seja consensual, ou melhor, esperamos que não o seja. Desejamos que constitua mais uma achega a esta matéria, mas que ultrapasse os limites do contributo intencionado.
Por isso é que fizemos um convite aos três artistas que aqui se apresentam. Num gesto de demonstração, de que a partilha entre os músicos portugueses se pode elevar para além da teorização e da dissecação das diferenças que, naturalmente, devem ter.
Porque “ser-se português” é ser-se mais do que uma língua, ou uma cultura fechada sobre si. De facto, a portugalidade deve pressupor a “abertura de novos mundos ao mundo”, mas sem implicar a reclusão de Portugal no encapsulado das suas frustrações históricas.
Dos quatro artistas presentes neste “Manifesto”, metade não cantam na língua de Camões; um deles faz este ano 20 anos de carreira, enquanto outro a inicia neste momento; os espectros musicais representados variam desde o rock, a pop, ao metal ou hip hop.
É necessário que se reflicta sobre a música que é nossa, mas que não se enviese o discurso pela alienação das partes – sejam estas artísticas ou não, o que é o mesmo que dizer que a indústria musical se rege pela concertação dos interesses dos artistas com as editoras, dos promotores de espectáculos com os agentes, mas também tendo em atenção que as rádios, por exemplo, não podem ser vistas, exclusivamente, como os maus da fita.
É necessário repensar, por exemplo, a forma como as publicações especializadas de música, muitas vezes, relegam para segundo plano a música nacional, em prol de um artista escandinavo que edita o seu primeiro EP.
Ou, por outro lado, lembrarmo-nos que a flagrante ausência de programação musical nas televisões generalistas, atinge ainda maiores proporções do que quaisquer playlists deficitárias. Tanto mais, que são raras as oportunidades para a apresentação em outro formato que não o de “playback”, por entre as previsões de um astrólogo e as histórias de um pároco.
A protecção da propriedade intelectual, sob a forma da criação artística musical, é carente de mecanismos eficazes, e é apanágio dos promotores de espectáculos (dos quais mais de metade são municípios) não cuidar da defesa do interesse dos autores; é sabido que nenhuma das televisões paga direitos pela transmissão de obras, ou pela sua interpretação; é igualmente do conhecimento de todos os autores nacionais que é virtualmente impossível reclamar junto da SPA pela justa cobrança dos mesmos. Nesta matéria, há ainda a acrescentar o flagrante atraso de Portugal, face a outros países europeus, no respeito pelos Direitos Conexos.
O enquadramento legal da profissão de “músico”, no tocante ao seu contributo fiscal, à sua protecção social, ou à definição das condições laborais, merece atenção por parte das entidades legisladoras.
Os grandes festivais em solo nacional cada vez mais esquecem a presença dos jovens artistas portugueses.
Estes e outros problemas são assuntos reais, que afligem diariamente os próprios princípios de defesa de uma sociedade justa e equilibrada.
É importante perceber-se que a defesa da Música Moderna Portuguesa começa por ser, acima de tudo, a defesa dos portugueses que a criam, mas não se deve limitar a tão nobres propósitos. Antes, deve pressupor-se que a salutar convivência no espaço cultural de uma nação implica todos aqueles que a habitam, ao bom estilo da sociedade cultural.
É desta forma que encaramos com relutância os discursos atribuidores de culpa, ou desculpabilizadores em causa própria. É, igualmente, com receio, que suspeitamos que haja quem possa ver, neste nosso exercício, um tom moralizador.
Não fazemos o panegírico da moralização, nem sequer da crítica do gosto. À luz do interesse em, realmente, defender o que é de todos, o património cultural desta nação sairá sempre salvaguardado. O do presente e o do futuro.
Estes são os princípios básicos que norteiam a edição desta compilação. Será oferecida, para chegar a mais portugueses. E, como produto cultural que é, a oferta destas vinte mil cópias tem o IVA já incluído… a zero por cento.
Não poderíamos terminar sem agradecer aos três artistas que aceitaram este nosso convite, e às editoras que os acolhem. Gostaríamos de estender este agradecimento a todos aqueles que, de uma forma ou de outra, todos os dias trabalham para o presente e futuro da música portuguesa.
Pelos EZ Special:
Fernando Tavares
Ricardo Azevedo
Mário Sá
Ez Special
Management:
M: 91 700 55 20