segunda-feira, 30 de maio de 2022

FADO BICHA APRESENTA DISCO DE ESTREIA: “OCUPAÇÃO”






















Juntaram-se em 2017, tomando o fado como ferramenta de trabalho. Acrescentaram-lhe o adjetivo bicha: palavra de luta, orgulho e resistência. São Fado Bicha, ou seja, Lila Fadista e João Caçador, e durante cinco anos deram mais de duas centenas de concertos em Portugal e no mundo. “OCUPAÇÃO”, o álbum de estreia da dupla, é o resultado dessa jornada pessoal, artística e política, e será lançado a 3 de junho, em todas as plataformas digitais.

Para Lila e João, o projeto Fado Bicha simboliza a ocupação de um património musical e estético com que cresceram, mas que continua preso a uma rigidez cisheteronormativa, que invisibiliza os corpos, as histórias, as dores e as cores das pessoas LGBTI e queer. Pessoas que fazem parte da história do fado, e da sua prática atual, mas que dificilmente puderam criar um legado artístico que refletisse integralmente as suas experiências, histórias e identidades.

Sem pedir licença ou legitimação, Fado Bicha decidiu ocupar um lugar que não existia, e sentar-se à mesa numa cadeira que não estava lá. Convocando outras vozes, corpos e narrativas, Lila e João construíram um repertório assumidamente interventivo e intimamente ligado aos meios e às urgências ativistas que buscam representatividade e orgulho. É assim que pensam o caráter mutável do fado que, como qualquer expressão artística, deve ser apropriado e ressignificado.

“OCUPAÇÃO” é um álbum que reflete esse posicionamento artístico e político, de autoconhecimento e resgate histórico, artivismo e compromisso, homenagem e reinvenção. Ao longo de cinco anos trabalharam o desenvolvimento do projeto, dando mais de 200 concertos em Portugal, na Europa e no Brasil, onde o destino as levou a uma festa em casa de Caetano Veloso, a um sarau em casa da atriz e psicanalista Cecília Boal, acabando por chegar aos ouvidos da enorme Elza Soares, recentemente falecida, que lhes fez chegar uma mensagem áudio.

O álbum é o culminar de toda essa caminhada, assim como condensa dois anos de colaboração com Luís Clara Gomes, mais conhecido como Moullinex, que produz o disco. Reunindo novas canções e releituras de temas que Lila e João cantaram desde o início do projeto, “OCUPAÇÃO” tanto evoca o lado confessional e dramático do fado tradicional, como o reinventa e ressignifica à luz de múltiplos ambientes sonoros e líricos.

Nesse trabalho de reinvenção contaram com a participação de várias artistas da cena queer portuguesa: Symone de la Dragma, passarumacaco, Labaq e Trypas Corassão (Tita Maravilha e Cigarra) colaboram em voz, instrumentação, co-composição e/ou co-produção; tal como a atriz e ativista trans Alice Azevedo e o jovem poeta Bernardo Araújo fazem aparições em duas faixas do álbum. Há uma composição que foi partilhada com Adriano Cintra, ex-músico da banda brasileira Cansei de Ser Sexy, e também fados clássicos de Alfredo Marceneiro ou Frederico Valério, com novos arranjos e leituras conceptuais. Das doze faixas, sete são composições inteiramente originais e nove têm letras originais.

Liricamente, o álbum percorre alguns lugares associados a uma experiência queer em Portugal no século XXI. Homenageia várias figuras da precária ancestralidade queer, como Valentim de Barros (em "Requiem para Valentim") ou Gisberta Salce (em "Medusa-me"), e da nossa comunidade viva, como a ativista Alice Azevedo (em "Fado Alice"). É um álbum de crítica mordaz à masculinidade tóxica ("Crónica do maxo discreto" ou "Medusa-me"), aborda as dores e dissabores das identidades bichas num mundo de rejeição ("De costas voltadas" ou "Fado do ciúme") e ensaia hinos de afirmação e recuperação do lugar de subalternidade ("Lila Fadista" ou "Fogo na casa"). Num país de tradição patriarcal e colonial, temas como "ESTOURADA", "Fado Ribeiro Santos" e "Povo pequenino" oferecem chaves de leitura poética do passado e presente de Portugal que traduzem a frustração de Lila e João com a incapacidade coletiva de se pensar a liberdade como uma prática necessariamente diária e desconfortável.

“OCUPAÇÃO” é também a celebração da trajetória e do futuro desta dupla que decidiu tomar conta do seu destino, e não esperar que mais ninguém falasse em seu nome.

Razões fortes, todas elas, para agora se escutar “OCUPAÇÃO”, seu disco de estreia que Lila e João gostam de pensar como “um manual de sobrevivência queer em forma de música e discurso, com muito da dor, do luto, da exaltação e da luta que fazem parte das vidas das pessoas LGBTI em Portugal em 2022.” Vamos a isso?

Fado Bicha - OCUPAÇÃO
1. Requiem para Valentim
2. ESTOURADA (com Symone de la Dragma)
3. 1997 (com Bernardo Araújo e passarumacaco)
4. Lila Fadista
5. De costas voltadas
6. Crónica do maxo discreto
7. Fado do ciúme (com Labaq)
8. Medusa-me (com Trypas Corassão)
9. Fado Ribeiro Santos
10. Fogo na casa
11. Fado Alice (com Alice Azevedo)
12. Povo pequenino

Quem são Fado Bicha?
Assumindo-se como um projeto musical, performativo e ativista, Fado Bicha foi criado em 2017 por Lila Fadista, na voz e nas letras, e João Caçador, na composição e instrumentos. Partindo do fado como ferramenta de trabalho, Lila e João exploram livremente esse património musical, superando algumas das barreiras rígidas do fado tradicional, e desafiando a heteronormatividade, o binarismo de género e o apagamento das histórias, das memórias e dos contributos das pessoas LGBTI e queer em Portugal.

Convocando outras vozes, corpos e narrativas, Fado Bicha é um projeto orgulhosamente interventivo, que parte das identidades bichas de Lila e João, e do seu envolvimento nos meios, nas temáticas e nas urgências ativistas que buscam diversidade, pertença e representatividade. Desde 2007, deram mais de 200 concertos em 8 países, lançaram três singles, um EP em 2021, participaram em teatro, cinema e televisão, tendo também concorrido à edição de 2022 do Festival da Canção, com o tema “Povo pequenino”.

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